A Igreja, o Estado e os Pré-Reformadores
O século XIV começara a
despontar não somente para os Estados nacionais, como também para o sentimento
de reforma da Igreja. Neste século destaca John Wycliffe (1328-1384) na
Inglaterra e João Husss (1373-1415) na Boêmia (hoje República Tcheca e
Eslováquia).
Wycliff[1], Hus e
Wessel, fundadores de movimentos reformadores da Igreja nos séculos XIV e XV,
seguiram o exemplo de São Francisco de Assis ao contrapor à Igreja com seu
poder e seu casamento com o Estado. Propunha uma Igreja visível, espiritual e
pobre, sem poderes nem estruturas separada totalmente do Estado[2].
Nesses mesmos séculos, difundiram-se correntes espirituais e místicas, que
acentuavam a dimensão íntima e subjetiva na experiência com Deus ou que
evidenciavam unilateralmente a onipotência da graça divina, chegando até a considerar inúteis as obras
do cristão para sua salvação. Essas idéias terão lugar fundamental na doutrina
luterana.
Na Inglaterra Wycliffe recebe
o apoio de alguns políticos e religiosos que defendiam o nacionalismo inglês
contrario aos domínios, francês e Romano, especialmente na questão secular pela
Igreja.
Ao mesmo tempo em que defendia
que a Igreja deveria retornar à primitiva pobreza dos tempos apostólicos,
Wyclif também entendia que o poder da Igreja devia ser limitado à s questões
espirituais, sendo o poder temporal exercido pelo Estado, representado pelo
rei. Seu livro “De officio regis”
defendia que o poder real também era originário de Deus, encontrava testemunho
nas Escrituras Sagradas, quando Cristo aconselhou “dar a César o que é de
César”. Era pecado, em sua opinião, opor-se ao poder do rei e todas as pessoas,
inclusive o clero, deveriam pagar-lhe tributos. O rei deve aplicar seu poder
com sabedoria e suas leis devem estar de acordo com as de Deus. Das leis de
Deus se deriva a autoridade das leis reais, inclusive daquelas em que o rei
atua contra o clero, porque se o clero negligencia seu ofício, o rei deve
chama-lo a responder diante de si. Ou seja, o rei deve possuir um “controle
evangélico” e quem serve à Igreja deve submeter-se à s leis do Estado. Os
arcebispos ingleses deveriam receber sua autoridade do rei (não do papa).
Este livro teve grande
influência na reforma da Igreja, não apenas na Inglaterra, que sob Henrique
VIII passaria a ter a igreja subordinada ao Estado e o rei como chefe da
Igreja, mas também na Boêmia e na Alemanha. Especialmente interessantes são
também os ensinamentos que Wyclif endereça aos reis, para que protejam seus
teólogos. Ele sustentava que, já que as leis do rei devem estar de acordo com
as Escrituras, o conhecimento da Bíblia é necessário para fortalecer o
exercício do poder real. O rei deveria cercar-se de teólogos para aconselha-lo
na tarefa de proclamar as leis reais.
Ao mesmo tempo em que defendia
que a Igreja deveria retornar à primitiva pobreza dos tempos apostólicos,
Wycliffe também entendia que o poder da Igreja devia ser limitado à s questões
espirituais, sendo o poder temporal exercido pelo Estado, representado pelo
rei.
O livro de sua autoria “De officio Regis” defendia que o poder real também era originário
de Deus, encontrava testemunho nas Escrituras Sagradas, quando Cristo
aconselhou “dar a César o que é de César”, no entanto esse poder deveria ser
separado do poder religioso, pois para ele a Igreja pertencia a uma instância
espiritual especial, aonde representava o poder do
evangelho em Cristo. Portanto um poder intrinsecamente espiritual. Era pecado,
em sua opinião, opor-se ao poder do rei e todas as pessoas, inclusive o clero,
deveriam pagar-lhe tributos. O rei deve aplicar seu poder com sabedoria e suas
leis devem estar de acordo com as de Deus. Das leis de Deus se deriva a
autoridade das leis reais, inclusive daquelas em que o rei atua contra o clero,
porque se o clero negligencia seu ofício, o rei deve chama-lo a responder diante
de si. Ou seja, o rei deve possuir um “controle evangélico” e quem serve à
Igreja deve submeter-se à s leis do Estado. Os arcebispos ingleses deveriam
receber sua autoridade do rei (não do papa).
Ele sustentava que, já que as
leis do rei devem estar de acordo com as Escrituras, o conhecimento da Bíblia é
necessário para fortalecer o exercício do poder real. O rei deveria cercar-se
de teólogos para aconselhá-lo na tarefa de proclamar as leis reais.
Tanto Wycliffe como Huss deixaram
bem definidas suas posições em relação a questão Igreja e Estado.
As idéias do pré-reformador inglês Wycliffe expressas em
sua obra "Sobre o Senhorio Civil" escrita em 1376 foram bem
aceitas em seu país. A Inglaterra desde o século XII vivi um clima de reação
nacionalista contra a interferência da Igreja Católica nos assuntos do Estado.
Em sua eclesiologia, Wycliffe ensinava que a Igreja deve ser regida pela
lei de Cristo que é a lei do amor e que se expressa através do serviço ao
próximo. Por essa razão ela tem que ser pobre; não pode controlar a economia
nem a política. O rei deveria interferir nos casos de enriquecimento abusivo do
clero. O papa torna-se um herege quando aceita o domínio do mundo, pois
transgride a lei de Cristo que é a lei da pobreza. O poder do papa é apenas espiritual
e quando quer tornar-se príncipe na realidade transforma-se em anticristo.
(VASQUES, 2005, p.20 Apud Tillich,
1988, p.189-193).
João Huss adepto das idéias de
Wycliffe propagou-as na Boêmia, com o mesmo sentimento anti-pontificial,
tornando claras essas idéias na sua obra "De Ecclesia", na
qual não só propõe uma reforma na Igreja, mas a separação do poder secular e
poder religioso. [.....].
[1] John
Wyclif (ou Wycliffe) foi professor da Universidade de Oxford, teólogo e
reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas religiosas que sacudiram
a Europa nos séculos XV e XVI (ver: Reforma Protestante). Trabalhou na primeira
tradução da Bíblia para o idioma inglês, que ficou conhecida como a Bíblia de
Wyclif. Wyclif então se retirou para sua casa em Lutterworth, onde reuniu
sábios que o auxiliaram na tarefa de traduzir a Bíblia do latim para o inglês.
Enquanto assistia à missa em Lutterworth, no dia 28 de dezembro de 1384, foi
acometido por um ataque de apoplexia, falecendo 3 dias depois, no último dia do
ano.A influência dos escritos de Wyclif foi muito grande em outros movimentos
reformistas, em particular sobre o da Boêmia, liderado por Jan Huss e Jerônimo
de Praga. Para frear tais movimentos, a Igreja convocou o Concílio de Constança
(1414 – 1418). Um decreto deste Concílio (expedido em 4 de maio de 1415)
declarou Wyclif como herético, recomendou que todos os seus escritos fossem
queimados e ordenou que seus restos mortais fossem exumados e queimados, o que
foi cumprido 12 anos mais tarde pelo Papa Martinho V. Suas cinzas foram jogadas
no rio Swift, que banha Lutterworth.
[2] Para uma pesquisa mais abrangente sobre o tema ver: TREVOR-ROPER, H. R. Religião, Reforma e Transformação Social.
Lisboa: Editorial Presença/ Martins Fontes, 1972.
Nenhum comentário:
Postar um comentário