segunda-feira, 8 de março de 2010

O CONCEITO DE PRESBITERIANISMO


1.1 O Conceito de Calvinismo e Presbiterianismo
O conceito antigo, moderno e contemporâneo de calvinismo, está baseado no conteúdo dos ensinamentos de Calvino e da tradição reformada, ou seja, de todo celeiro da reforma do século XVI e anterior a ela .
A tradição reformada tem alta consideração as contribuições especificas como as de Martinho Lutero, Ulrico Zwinglio , Guillherme Farel , Jonh Knox e, particularmente,
de João Calvino , também encontra seu forte aparato nos gigantes da fé que os antecederam, tais como Anselmo e Agostinho e principalmente nas cartas de Paulo e nos ensinamentos de Jesus Cristo.
O termo Reformado originário especialmente do Calvinismo, é um conceito usado historicamente para as igrejas da reforma do séc. XVI influenciadas por Zwinglio e Calvino diferenciando das igrejas luteranas e das Igrejas oriundas do movimento anabatista, embora alguns grupos anabatistas posteriores aderiram ao Calvinismo. Com os luteranos, a diferença girou em torno da compreensão sobre a presença de Cristo na Ceia do Senhor.
Hoje, usa-se o termo reformado para conceituar quem crê nos brados da reforma (Sola Scriptura, Sola Fide, Sola Gratia, Solus Christus e Soli Deo Gloria, respectivamente, somente as Escrituras, somente a fé, somente a graça, somente Cristo, somente a Deus toda a glória).

Os reformados são conhecidos também pela crença nas doutrinas da graça ou chamados “cinco pontos do calvinismo” (acroste em inglês TULIP – Total depravation, Inconditional election, Limited atonement, Irresistible grace, Perseverance of saints, respectivamente Depravação total, Eleição incondicional, Expiação limitada, Graça irresistível, Perseverança dos santos) elaborados no Sínodo de Dort na Holanda em 1619 em resposta aos cinco pontos do arminianismo, ou mais delimitadamente conhecidos pela crença na doutrina da eleição e predestinação.
O homem responsável pela sistematização doutrinária e pela expansão do pro¬testantismo refor¬mado foi João Calvino. O “pai do protestantismo reformado” é Zwínglio. Mas o homem que moldou o pensamento refor¬mado foi João Calvino. Por isso, o sis¬tema de doutrinas adotado pelas Igrejas Refor¬ma¬das ou Presbiterianas chama-se cal¬vinismo.
Errol Hulse , diz de forma sucinta o que é ser reformado:
“Ser reformado é ter a experiência da graça no coração. Ter uma experiência da graça significa o pecador reconhecer a própria depravação e que sua justificação só é alcançada pela graça, mediante a fé. É reconhecer que o homem está escravizado pelo pecado e incapacitado de chegar a Deus por sua própria vontade, até que Deus, por sua graça, escolha a quem quer, para que, em arrependimento, venha até Ele e seja salvo”.

Benjamin Warfield apresenta um conceito de Calvinismo definindo-o como:
O Corpo completo de concepções teológicas, éticas, filosóficas, sociais e políticas, que, sob a influência da mente mestra de João Calvino, elevaram-se a si mesmas ao ponto de alcançar domínio em terras protestantes na época posterior à Reforma, e que deixou uma marca permanente não só sobre o pensamento da humanidade, mas também sobre a vida da história dos homens, a ordem social dos povos civilizados, incluindo as organizações políticas dos Estados (Warfield, 1931, p. 353).

O Calvinismo também pode ser definido como as idéias consolidadas de Calvino e seus seguidores, basicamente daqueles oriundos da Academia de Genebra fundada pelo próprio Calvino. Aquela academia formou muitos ministros para as Igrejas bem como pessoas que não foram ordenadas os quais influenciaram a sociedade européia nos séculos XVI e XVII. A partir de Genebra, o calvinismo tornou-se um movimento internacional, influenciando até mesmo o recém descoberto Continente Americano.
Paulo Anglada no seu opúsculo, O que é Calvinismo? Encontrado na introdução do seu livro: Calvinismo: As Antigas Doutrinas da Graça, diz:
O calvinismo na realidade é a síntese das doutrinas dos reformadores. As confissões de Fé das igrejas: Luterana, Reformada, Presbiteriana, Anglicana, Congregacional e Batistas professam, todas pelo menos nas suas confissões de fé originais, o sistema doutrinário conhecido como calvinismo. Se faz necessário sabermos disso, porque na maioria das vezes, algumas pessoas associam a doutrina a uma igreja em particular. Por exemplo: A predestinação é doutrina da Igreja Presbiteriana. O calvinismo na realidade é um sistema doutrinário bem mais amplo, harmônico, sistemático, e consequentemente mais sólido. Ou seja, o calvinismo não está limitado aos cinco pontos que serão expostos durante esta semana, ele vai mais além até porque os cinco pontos estão associados basicamente a questão soteriológica. (Introdução: 2002, I).
Ainda Diz: “O evangelho, conforme crido e proclamado pelo calvinismo, é o evangelho do Senhor Jesus, do Apóstolo Paulo, de Agostinho, de Lutero, de Calvino, de J. Knox, de J. Edwards, de Spurgeon, de Ryle, de Lloyd Jones, e tantos outros”.

Na Suíça, as idéias de Calvino foram amplamente aceitas com a promulgação da Segunda Confissão Helvética de 1566. Na Inglaterra no Diretório de Culto e nas confissões. Nos Países Baixos (hoje Holanda e Bélgica) em suas confissões de Fé. Na França o crescimento foi ainda maior, como registra:
Na França, o crescimento das igrejas reformadas após o primeiro sínodo naquele país, em 1559, foi espetacular. Os fatos falam por si mesmos: havia somente cinco igrejas organizadas em 1555 (em Paris, Meaux, Angers, Poitiers e Loudun), perto de quatro anos depois, quando se reuniu o Primeiro Sínodo Nacional em Paris, em 1559, havia cerca de cem igrejas; no ano de 1562, que marca o início das guerras religiosas, o número de igrejas chegou a 2.150 (Courthial, 1990, p. 89).

Na Alemanha, o Catecismo de Heidelberg, organizado por Zacarias Ursinus e Gaspar Olevianus, em 1563, se não serviu para expandir o calvinismo naquele país além dos seus modestos números, foi, no entanto, uma valorosa contribuição para o calvinismo nos Países-Baixos. Desde a execução de Patrick Hamilton , em 1528, os pontos de vista protestantes se disseminaram na Escócia. John Knox transportou para lá a doutrina calvinista e o sistema organizacional eclesiástico estabelecido na Igreja de Genebra, que caracterizou esse movimento como Presbiterianismo na Escócia, e Puritanismo na Inglaterra.
O termo presbiteriano foi adotado pelos reformados nas Ilhas Britânicas (Escócia, Inglaterra e Irlanda). Isso se deve ao contexto político-religioso em que o protestantismo foi introduzido naquela região, no qual a forma de governo da igreja teve uma importância preponderante. Os reis ingleses e escoceses preferiam o sistema episcopal, ou seja, uma igreja governada por bispos e arcebispos, o que permitia maior controle da Igreja pelo Estado. Já o sistema presbiteriano, isto é, o governo da igreja por presbíteros eleitos pela comunidade e reunidos em concílios, significava um governo mais democrático e autônomo em relação aos governantes civis. Das Ilhas britânicas, o presbiterianismo foi para os Estados Unidos e dali para muitas partes do mundo, inclusive o Brasil.

O Presbiterianismo tem uma seqüência histórica. Nesta afirmativa, conclui Matos:
O presbiterianismo ou movimento reformado nasceu da Reforma Protestante do século 16. Tendo o protestantismo começado na Alemanha, sob a liderança de Martinho Lutero, pouco depois surgiu uma segunda manifestação do mesmo no Cantão de Zurique, na Suíça, sob a direção de outro ex-sacerdote, Ulrico Zuínglio (1484-1531). Para distinguir-se da reforma alemã, esse novo movimento ficou conhecido como a Segunda Reforma ou Reforma Suíça. O entendimento de que a reforma suíça foi mais profunda em sua ruptura com a igreja medieval e em seu retorno às Escrituras fez com que recebesse o nome de movimento reformado e seus simpatizantes ficassem conhecidos simplesmente como reformados. Ao morrer, em 1531, Zuínglio teve um hábil sucessor na pessoa de João Henrique Bullinger (1504-1575). Todavia, poucos anos depois surgiu um líder que se destacou de todos os outros por sua inteligência, dotes literários, capacidade de organização e profundidade teológica. Esse líder foi o francês João Calvino (1509-1564), que concentrou os seus esforços na cidade suíça de Genebra, onde residiu durante 25 anos. Através da sua obra magna, a Instituição da Religião Cristã ou Institutas, comentários bíblicos, tratados e outros escritos, Calvino traçou os contornos básicos do presbiterianismo, tanto em termos teológicos quanto organizacionais, à luz das Escrituras Sagradas. Graças aos seus escritos, viagens, correspondência e liderança eficaz, Calvino exerceu enorme influência em toda a Europa e contribuiu para a difusão do movimento reformado em muitas de suas regiões. Dentro de poucos anos, a fé reformada fincou sólidas raízes no sul da Alemanha (Estrasburgo, Heidelberg), na França, nos Países Baixos (as futuras Holanda e Bélgica) e no leste europeu, onde surgiram comunidades reformadas em países como a Polônia, a Lituânia, a Checoslováquia e especialmente a Hungria. Em algumas dessas nações, a reação violenta da Contra-Reforma limitou ou sufocou o novo movimento, como foram, respectivamente, os casos da França e da Polônia. (MATOS: 2009, p.2).

O Presbiterianismo ganhou este nome especialmente na Escócia com John Knox no final do século XVI. Os seguidores do movimento iniciado por Zwínglio e estruturado por Calvino se espalharam ime¬diata¬mente por toda a Europa. Na França eles eram chamados de hu¬guenotes; na Inglaterra, purita¬nos; na Suíça e Países Baixos, reformados; na Escócia, presbiterianos.
A Escócia é uma país muito importante na história do protestantismo reformado. Foi lá que surgiu o nome presbiteriano. Por isto, alguns livros de história afirmam que o presbiterianismo nasceu na Escó¬cia.
A Igreja Reformada Escocesa consolidou o sistema de governo Eclesiástico e a sistematização da teologia calvinista mais elevada daquela época. Por outro lado, o Estado Escocês tornou-se quase todo Presbiteriano, influenciando diretamente no Governo secular.
“O princípio presbiteriano básico do governo eclesiástico representativo estava arraigado na antropologia de Calvino ... Calvino temia igualmente as pretensões e tirania do governo individual e a volubilidade e confusão das massas. Ele aprovava para o Estado e a Igreja, com bases teológicas, a democracia temperada pela aristocracia, ou seja, pelos mais qualificados. A vontade de Deus está mais próxima de ser realizada se as decisões não são tomadas nem por indivíduos nem por todo o povo, mas por aqueles que foram escolhidos por suas qualificações especiais.” (LEITH, 1997, p. 265).

O presbiterianismo foi levado da Escócia para a Inglaterra; de lá, para os Esta¬dos Unidos da Amé¬rica.
Em 1726 teve início um grande despertamento espiritual nos Estados Unidos. Este desperta¬mento levou os presbiterianos a se interessarem por missões estrangeiras. Missionários foram enviados para vá¬rios países, inclusive o Brasil. No dia 12 de agosto de 1859 chegou ao nosso país o primeiro missionário presbiteriano: Ashbel Green Si¬monton. O Presbiterianismo destacou os pontos principais da doutrina calvinista no que diz respeito à soberania de Deus. Os Cinco Pontos do Calvinismo são apenas a afirmação da soberania de Deus na salvação do homem. O Presbiterianismo ensina que o autor do universo é, também, autor da salvação. Ensina que Deus é amor e que esse amor, plenamente revelado em Cristo, é mais forte do que a morte. (...). Declara que Deus, fonte de toda a graça e de toda a vida, concede ao pecador graça e vida. Declara, finalmente, que o homem convertido é filho de Deus para sempre. O plano, o amor, a vida, o poder e as promessas de Deus fazem da salvação do homem arrependido uma certeza gloriosa.
No elemento caracteristicamente calvinista do presbiterianismo estão as doutrinas usualmente denominadas os cinco pontos peculiares ao calvinismo: a) predestinação incondicional, oposta à expiação condicional; b) expiação definida ou redenção particular, oposta à expiação indefinida; c) a depravação total do gênero humano, oposta à depravação parcial; d) a graça eficaz, oposta à graça incerta; e) a perseverança final dos santos, oposta à perseverança parcial. Esses cinco pontos são peculiares ao presbiterianismo e distinguem os calvinistas dos demais cristãos evangélicos. Muitos batistas e congregacionais, e alguns episcopais e metodistas adotaram os Cinco Pontos como expressão de fé. Nesses Cinco Pontos, teologicamente são Calvinistas.
Rev. Mauro Ferreira

DOUTRINA REFORMADA


1. PORQUE SURGIRAM OS CINCO PONTOS COMO TEOLOGIA REFORMADA

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Um teólogo holandês chamado Jacob Hermann, que viveu de 1560 a 1609, melhor conhecido pela forma latinizada de seu último nome, Arminius, ainda que educado na tradição reformada, se inclinou para as doutrinas humanistas de Erasmo, porque tinha sérias dívidas a respeito da graça soberana de Deus; como era ensinada pelos Reformadores. Seus discípulos, chamados arminianos, disseminaram o ensino de seu mestre e, alguns anos depois de sua morte, formularam sua doutrina em cinco pontos principais, conhecidos como os cinco pontos do arminianismo.
Em 1619, um grupo de teólogos publicou um documento com cinco capítulos que fora escrito em resposta a cinco pontos de protesto de discípulos de um professor de seminário na Holanda chamado Tiago Armínio (1560–1609). Um Sínodo nacional foi chamado para responder a Representação (protesto). Oitenta e quatro membros e 18 comissários seculares vieram, não só da Holanda, mas da Alemanha, Bavária, Suíça e Inglaterra. Eles se reuniram por sete meses e formularam o que ficou conhecido como os Cinco Pontos do Calvinismo, em homenagem ao reformador João Calvino (1509–1564), o qual expusera essas doutrinas no século anterior. O sínodo restabeleceu todas as doutrinas que haviam sido sustentadas por praticamente todos os reformadores e pelo Pai da Igreja Agostinho de Hipona (354–430 D.C.), mil e duzentos anos antes.
Os arminianos resolveram fazer uma representação ao Parlamento Holandês. Era um protesto contra a Fé Reformada, cuidadosamente escrito. Em 1618, um Sínodo nacional da Igreja reuniu-se em Dort para examinar os ensinos de Arminius à luz das Escrituras. Depois de 154 calorosas sessões, que consumiram sete meses, os cinco pontos do arminianismo foram considerados contrários ao ensino das Escrituras e declarados heréticos. Ao mesmo tempo, os teólogos reafirmaram a posição sustentada pelos Reformadores Protestantes como consistentes com as Escrituras e formularam aquilo que hoje é conhecido como “Os Cinco Pontos do Calvinisno” (em honra ao grande teólogo francês, João Calvino).
Ao longo dos anos essa resposta do Sínodo de Dort às heresias arminianas tem sido apresentada na forma de um acróstico formado pela palavra TULIP, sendo as iniciais tradicionalmente da língua inglesa.
Total Depravit = Depravação Total-Total depravação.
Unconditional Election= Eleição Incondicional-Uma escolha incondicional.
Limited Atonement = Expiação Limitada-Limitada expiação.
Irresistible Grace = Graça Irresistível-Irresistível chamado.
Perseverance Of Saints = Perseverança dos Santos-Perseverança dos santos.
Estes pontos por muito tempo foram chamados de : “As Cinco Afirmações do Evangelho”.
Os estudiosos daquele sínodo produziram um material profundamente bíblico e, ao mesmo tempo, compreensível, fácil de memorizar e explicar. O evangelho foi resumido em cinco declarações:
1) Deus criou tudo perfeito, mas o homem decaiu de seu estado de santidade e comunhão original.
2) Deus escolheu, dentre a massa de pecadores, alguns para serem salvos.
3) Cristo morreu pelos eleitos.
4) Os eleitos são chamados pelo Espírito Santo, através da proclamação do evangelho.
5) Os eleitos serão glorificados.
Segundo Grider, Arminius foi o expositor mais capacitado daquilo que vários outros já estavam ensinando: que a predestinação divina dos indivíduos baseia-se na Sua presciência do modo pelo qual eles, espontaneamente, aceitarão ou rejeitarão Cristo, ou seja, há uma participação do homem na salvação. Para Arminius, Deus elege e o homem aceita ou não a eleição. Ele estava dizendo que a Eleição é condicional.
Os ensinos de Arminius foram assimilados por Carlos Wesley, pelos metodistas, pelas igrejas da Santidade (holiness), pelo Exército de Salvação, pelos nazarenos, pelos batistas, pelos pentecostais, pelos assembleianos e os neopentecostais de hoje.
Arminius reconhecia as Escrituras como autoridade suprema para a formulação das doutrinas e ensinava que a justificação é somente pela graça, não havendo nada de meritório na fé que a ocasione. Entretanto, uma das suas doutrinas distintivas é a respeito da eleição ou predestinação, afirmando que a predestinação da parte de Deus é salvar aqueles que se arrependem e crêem (predestinação condicional), como teria sido ensinado pelos teólogos católicos após Tomás de Aquino. De certa maneira não divergia totalmente, mas a questão era a Eleição Condicional versus Eleição Incondicional como ensinara Agostinho e Calvino.
Muitas afirmativas creditadas aos arminianos são opiniões erroneamente atribuídas ou mal compreendidas. Por exemplo, o arminianismo não é teologicamente liberal, nem tampouco é sincretista. É evangélico, mas com importantes doutrinas diferentes do calvinismo, pois Arminius nunca afirmou que o homem não precisasse da graça de Deus para salvação.
É de fundamental importância fazer uma conexão da teologia arminiana com a filosofia, especialmente anos antes do Sínodo de Dort, para melhor conhecer o pano de fundo da tese dos seguidores posteriores a Arminius.
Packer (1999) quando discorre sobre os cincos pontos, afirma que o entendimento da fórmula “Remonstrance”, parte do pressuposto da compreensão do homem. Para Arminuis e seus seguidores, a liberdade humana é o ponto de partida da responsabilidade, inclusive para escolher o que fazer com sua alma. Packer (1999, p.40) explica esta compreensão dos argumentos remonstrantes de seguinte maneira:

A teologia contida nesta “Remonstrance” (ou Representação) “originou-se de dois princípios filosóficos: primeiro, que a soberania de Deus é incompatível com a liberdade humana, e, portanto, também com a responsabilidade humana; em segundo lugar, que habilidade é algo que limita a obrigação... Com bases nesses princípios, os arminianos extraíram duas deduções: primeira, visto que a Bíblia considera a fé como um ato humano livre e responsável, ela não pode ser causada por Deus, mas é exercida independentemente dEle; segunda, visto que a Bíblia considera a fé como obrigatória da parte de todos quantos ouvem o Evangelho, a capacidade de crer deve ser universal. Portanto, eles afirmam, as Escrituras devem ser interpretadas como ensinando as seguintes posições: 1. O homem nunca é de tal modo corrompido pelo pecado que não possa crer salvaticiamente (salvificamente) no Evangelho, uma vez que este lhe seja apresentado; 2. O homem nunca é de tal modo controlado por Deus que não possa rejeitá-lo; 3. A eleição divina daqueles que serão salvos alicerça-se sobre o fato da previsão divina de que eles haverão de crer, por sua própria deliberação; 4. A morte de Cristo não garantiu a salvação para ninguém, pois não garantiu o dom da fé para ninguém (e nem mesmo existe tal dom); o que ela fez foi criar a possibilidade de salvação para todo aquele que crê; 5. Depende inteiramente dos crentes manterem-se em um estado de graça, conservando a sua fé; aqueles que falham nesse ponto, desviam-se e se perdem. Dessa maneira, o arminianismo faz a salvação do indivíduo depender, em última análise, do próprio homem, pois a fé salvadora é encarada, do princípio ao fim, como obra do homem, pertencente ao homem e nunca a Deus”.

DOUTRINA DA REFORMA


Os Cinco Solas da Reforma
Sola Scriptura, Sola Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria
por
Declaração de Cambridge



SOLA SCRIPTURA: A Erosão da Autoridade
Só a Escritura é a regra inerrante da vida da igreja, mas a igreja evangélica atual fez separação entre a Escritura e sua função oficial. Na prática, a igreja é guiada, por vezes demais, pela cultura. Técnicas terapêuticas, estratégias de marketing, e o ritmo do mundo de entretenimento muitas vezes tem mais voz naquilo que a igreja quer, em como funciona, e no que oferece, do que a Palavra de Deus. Os pastores negligenciam a supervisão do culto, que lhes compete, inclusive o conteúdo doutrinário da música. À medida que a autoridade bíblica foi abandonada na prática, que suas verdades se enfraqueceram na consciência cristã, e que suas doutrinas perderam sua proeminência, a igreja foi cada vez mais esvaziada de sua integridade, autoridade moral e discernimento.
Em lugar de adaptar a fé cristã para satisfazer as necessidades sentidas dos consumidores, devemos proclamar a Lei como medida única da justiça verdadeira, e o evangelho como a única proclamação da verdade salvadora. A verdade bíblica é indispensável para a compreensão, o desvelo e a disciplina da igreja.
A Escritura deve nos levar além de nossas necessidades percebidas para nossas necessidades reais, e libertar-nos do hábito de nos enxergar por meio das imagens sedutoras, clichês, promessas e prioridades da cultura massificada. É só à luz da verdade de Deus que nós nos entendemos corretamente e abrimos os olhos para a provisão de Deus para a nossa sociedade. A Bíblia, portanto, precisa ser ensinada e pregada na igreja. Os sermões precisam ser exposições da Bíblia e de seus ensino, não a expressão de opinião ou de idéias da época. Não devemos aceitar menos do que aquilo que Deus nos tem dado.
A obra do Espírito Santo na experiência pessoal não pode ser desvinculada da Escritura. O Espírito não fala em formas que independem da Escritura. À parte da Escritura nunca teríamos conhecido a graça de Deus em Cristo. A Palavra bíblica, e não a experiência espiritual, é o teste da verdade.
Tese 1: Sola Scriptura
Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.
Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação.

SOLO CHRISTUS: A Erosão da Fé Centrada em Cristo

À medida que a fé evangélica se secularizou, seus interesses se confundiram com os da cultura. O resultado é uma perda de valores absolutos, um individualismo permissivo, a substituição da santidade pela integridade, do arrependimento pela recuperação, da verdade pela intuição, da fé pelo sentimento, da providência pelo acaso e da esperança duradoura pela gratificação imediata. Cristo e sua cruz se deslocaram do centro de nossa visão.
Tese 2: Solus Christus
Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai.
Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.
SOLA GRATIA: A Erosão do Evangelho

A Confiança desmerecida na capacidade humana é um produto da natureza humana decaída. Esta falsa confiança enche hoje o mundo evangélico – desde o evangelho da auto-estima até o evangelho da saúde e da prosperidade, desde aqueles que já transformaram o evangelho num produto vendável e os pecadores em consumidores e aqueles que tratam a fé cristã como verdadeira simplesmente porque funciona. Isso faz calar a doutrina da justificação, a despeito dos compromissos oficiais de nossas igrejas.
A graça de Deus em Cristo não só é necessária como é a única causa eficaz da salvação. Confessamos que os seres humanos nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça regeneradora.
Tese 3: Sola Gratia
Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual.
Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.

SOLA FIDE: A Erosão do Artigo Primordial

A justificação é somente pela graça, somente por intermédio da fé, somente por causa de Cristo. Este é o artigo pelo qual a igreja se sustenta ou cai. É um artigo muitas vezes ignorado, distorcido, ou por vezes até negado por líderes, estudiosos e pastores que professam ser evangélicos. Embora a natureza humana decaída sempre tenha recuado de professar sua necessidade da justiça imputada de Cristo, a modernidade alimenta as chamas desse descontentamento com o Evangelho bíblico. Já permitimos que esse descontentamento dite a natureza de nosso ministério e o conteúdo de nossa pregação.
Muitas pessoas ligadas ao movimento do crescimento da igreja acreditam que um entendimento sociológico daqueles que vêm assistir aos cultos é tão importante para o êxito do evangelho como o é a verdade bíblica proclamada. Como resultado, as convicções teológicas freqüentemente desaparecem, divorciadas do trabalho do ministério. A orientação publicitária de marketing em muitas igrejas leva isso mais adiante, apegando a distinção entre a Palavra bíblica e o mundo, roubando da cruz de Cristo a sua ofensa e reduzindo a fé cristã aos princípios e métodos que oferecem sucesso às empresas seculares.
Embora possam crer na teologia da cruz, esses movimentos a verdade estão esvaziando-a de seu conteúdo. Não existe evangelho a não ser o da substituição de Cristo em nosso lugar, pela qual Deus lhe imputou o nosso pecado e nos imputou a sua justiça. Por ele Ter levado sobre si a punição de nossa culpa, nós agora andamos na sua graça como aqueles que são para sempre perdoados, aceitos e adotados como filhos de Deus. Não há base para nossa aceitação diante de Deus a não ser na obra salvífica de Cristo; a base não é nosso patriotismo, devoção à igreja, ou probidade moral. O evangelho declara o que Deus fez por nós em Cristo. Não é sobre o que nós podemos fazer para alcançar Deus.
Tese 4: Sola Fide
Reafirmamos que a justificação é somente pela graça somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus.
Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima.
SOLI DEO GLORIA: A Erosão do Culto Centrado em Deus

Onde quer que, na igreja, se tenha perdido a autoridade da Bíblia, onde Cristo tenha sido colocado de lado, o evangelho tenha sido distorcido ou a fé pervertida, sempre foi por uma mesma razão. Nossos interesses substituíram os de Deus e nós estamos fazendo o trabalho dele a nosso modo. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum e lamentável. É essa perda que nos permite transformar o culto em entretenimento, a pregação do evangelho em marketing, o crer em técnica, o ser bom em sentir-nos bem e a fidelidade em ser bem-sucedido. Como resultado, Deus, Cristo e a Bíblia vêm significando muito pouco para nós e têm um peso irrelevante sobre nós.
Deus não existe para satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais particulares. Precisamos nos focalizar em Deus em nossa adoração, e não em satisfazer nossas próprias necessidades. Deus é soberano no culto, não nós. Nossa preocupação precisa estar no reino de Deus, não em nossos próprios impérios, popularidade ou êxito.
Tese 5: Soli Deo Gloria
Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.
Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.
Fonte: www.monergismo.com