segunda-feira, 23 de novembro de 2020

SIMONTON: O LEGADO DE UM PIONEIRO

Biografia e Sinopse Histórica: -Nascimento de Ashbel G. Simonton West Hanover, Pensilvânia 20/01/1833. -Pai:William Simonton, médico, político e presbítero. -Mãe: Martha Snodgrass Simonton - Foi caçula dentre 11 filhos: 7 homens e 4 mulheres - descendentes de irlandeses presbiterianos. - 14/06/1833 batizado com 5 meses: “filho da Aliança”- 17/05/1846 morte do pai? /04/1847 - mudança para Harrisburg, Pensilvânia 1850 – graduação na High School, New Jersey 1852 – graduação no College of New Jersey Starkville, Mississipi? /12/1852 - aos 19 anos exerce o magistério ensinando: latim, francês, alemão e italiano 29/06/1854 - volta para Harrisburg Pensilvânia? /07/1854 – inicio o estudo de Direito 05/05/1855 - profissão de Fé na Igreja Presbiteriana Market Square Princeton, New Jersey? /08/1855 - estudante no Seminário Teológico Presbiteriano de Princeton 14/10/1855 - despertamento para missões 10/10/1857 - Conversa com o secretário de Missões da Igreja Presbiteriana do Norte 14/04/1858 - Licenciado para pregar pelo Presbitério de Carlyle 21/11/1858 - opção pelo Brasil ?/12/1858 - resposta positiva da Junta de Missões (Board of New York) 14/04/1859 - Ordenação ao ministério na Igreja Reformada Alemã de Harrisburg 18/06/1859-embarque para o Brasil, no navio “Banshee” Rio de Janeiro, Brasil 12/08/1859 - Desembarque no Rio de Janeiro, quase 2 meses de viagem - chega ao Brasil com 27 anos de idade 31/08/1859 - celebração do 1º culto no Brasil 27/12/1859 - celebração da 1ª Santa Ceia 12/01/1862 - primeiros batismos e organização da 1ª Igreja Presbiteriana do RJ . Pouco depois de organizar a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, em conjunto com o reverendo Alexander Blackford, (12 de janeiro de 1862), o jovem missionário seguiu em viagem de férias para os Estados Unidos, vindo a casar-se com Helen Murdoch, em Baltimore. Regressaram ao Brasil em julho de 1863. No fim de junho do ano seguinte, Helen faleceu nove dias após o nascimento da sua filhinha, que recebeu o seu nome. Helen Murdoch Simonton, a filha única do Rev. Simonton. Com o passar dos anos, Simonton criou o jornal Imprensa Evangélica (1864), organizou o Presbitério do Rio de Janeiro (1865) e fundou o Seminário Primitivo (1867), este último localizado em um edifício de vários pavimentos junto ao Campo de Santana. No final de 1867, sentindo-se adoentado, o missionário pioneiro seguiu para São Paulo, onde sua irmã e seu cunhado criavam a pequena Helen. Seu estado de saúde agravou-se e ele veio a falecer no dia 9 de dezembro, acometido de "febre biliosa", conforme consta do seu registro de sepultamento. Seu túmulo foi um dos primeiros do ainda recente Cemitério dos Protestantes, no bairro da Consolação. Anos depois, foram sepultados perto dele os ossos do ex-sacerdote reverendo José Manuel da Conceição (1822-1873), o primeiro pastor evangélico brasileiro. Simonton e Conceição, um estadunidense e um brasileiro, foram os personagens mais notáveis dos primórdios do presbiterianismo no Brasil. Fatos que confirma o chamado e a Providência Divina: Um fato digno de meditação é a ocasião do batismo da criança Ashbel. Em 14 de junho de 1833 quando a criança estava com cinco meses, os pais a apresenta para o batismo, momento em que cheia de fé, sua mãe entrega aquela criança ao Senhor pedindo que o consagre para o sagrado ministério. O tempo passou, a criança cresceu, virou um adolescente a ponto de se sentir influenciado pelo contexto americano da época. Os Estados Unidos, especialmente no novo Estado da Pensilvânia com a abertura de cursos de Direito e humanidades, os jovens sentiam atraídos pelos novos cursos. Simonton era filho de um conceituado médico, deputado federal e devoto cristão, e, como filho de um político, tinha naturalmente uma futura carreira brilhante como advogado. O jovem Simonton inscreve no curso de Direito em Harrisburg – Pensilvânia em 02 de julho de 1854. Em 20 de janeiro de 1855, seis meses de curso, ao completar vinte e dois anos, um jovem mestre-escola e estudante de direito norte-americano está preocupado com seu projeto de vida. E lamenta, (Simonton, Diário, p. 87): “A verdade é que chego aos vinte e dois anos, e ainda não fixei o objetivo da minha existência”. Para o filho de pais religiosos, uma preocupação mais específica é a questão da salvação, ou seja, a certeza da fé. No dia 14 de abril, após participar no Inquiry Meeting, uma reunião de prosseguimento que ocorria nas igrejas protestantes após os cultos de pregação da Bíblia (Revival), esse rapaz afirma que diante da pergunta individual, feita usualmente aos participantes, “Como você está-se sentindo?” ele não se sentia seguro para dar uma resposta. Diante dessa pergunta difícil, ele assim se auto-descreve para seu diário: Não tenho aquela aflição mental que muitos experimentam pela consciência do perigo; nem fortes sentimentos de remorso por meus pecados; nem emoções profundas de gratidão ao Salvador por Suas misericórdias e bondade, evidentes no plano da salvação; e nem a certeza de que Ele será meu Salvador. Mas não sou indiferente nem insensível em tudo isso, e meu interesse é profundo. Sei que sou grande pecador, e com justiça exposto à ira de Deus. Sinto que nada posso fazer para salvar-me dessa ira. Renuncio a qualquer esperança em qualquer outro nome ou caminho da salvação exceto o nome e o sangue de Jesus Cristo; e se conheço meu coração, sou sincero no desejo de devotar-me a Seu serviço. Contudo, e não sem esperança de Sua graça, não sinto evidência segura de que minha crença nessa esperança é boa. Tenho procurado alguma visão nova ou mais clara da verdade, ou sentimentos mais vivos, dada minha visão anterior da verdade, do que os que já experimentei. Mas na falta do que considero evidência da operação do Espírito, não sinto a certeza da fé. (SIMONTON,1982, p. 94.) Em 3 de maio de 1855, Simonton registra que findaram suas funções no Tribunal, e assim o seu desejo de ser advogado. Movido pelo espírito de Deus, volta ao curso normal de sua existência, ingressando em seguida no seminário de Princeton, New Jerseyem 02 de agosto de 1855. Ele registra em seu Diário: E agora antes do fim deste dia pelo qual espero jamais deixar de dar graças a Deus, quero deixar escrito, para poder ler e reler, o que hoje voluntariamente dediquei a Deus: Deliberei no temor a Deus cumprir todos os deveres expressos em Sua Santa Palavra, e estudar essa Palavra em oração sincera para que seja guiado ao bom entendimento dela. Renunciei a qualquer outra esperança de salvação e declarei minha confiança na livre Graça de Deus revelada no Evangelho de Jesus Cristo; minha obrigação para com Ele por todas as aspirações vindas Dele e minha dependência Dele em cada novo passo da vida consagrada. Assumi os votos feitos por meus pais em minha infância “para ser do Senhor”, e fazer do Seu serviço o supremo objetivo da vida. Para que todo o caminho que eu tomar seja marcado por sua Palavra e Sua Providência, jamais me deixarei afastar do caminho que Ele indicou; especialmente se Sua Vontade clara me indicar o Ministério, para lá irei com alegria e zelo. E para descobrir Sua Vontade orarei e esperarei por Ele com coração sincero. Mas se por Sua providência essa estrada estiver fechada, aceitarei e lembrarei que em qualquer posição na vida Sua glória deve ser objetivo supremo “pois fomos comprados por preço: o precioso sangue de Jesus”. Esta é minha aliança. (SIMONTON,1982, p.97-98). Em 20 de janeiro de 1856, quando celebrou seu primeiro aniversário após ter se tornado membro professo da Igreja, ele está agora com 23 anos. Simonton se refere à decisão religiosa tomada meses antes da seguinte maneira: Foi com dúvidas que fiz essa profissão. Minha fé era fraca e minhas impressões tão inadequadas que não podia deixar às vezes de me sentir indeciso quanto à minha verdadeira condição. E agora, revendo minha vida, e o progresso que fiz na vida sagrada, embora possa lembrar tanta coisa boa, contudo muito há em mim que prova a fraqueza do princípio de minha fé, - se é que posso dizer com certeza que possuo a fé salvadora que o Evangelho exige. (grifo nosso). (SIMONTON,1982, pg. 108-109). Matos registra: Um terceiro fator que marcou a trajetória de Simonton foi a tradição puritana, tão importante na história dos Estados Unidos. Um legado dessa tradição foi o grande fervor espiritual, a intensa busca de comunhão com Deus que contribuiu para os freqüentes avivamentos da época. Em um deles, ocorrido em 1855, o jovem presbiteriano se converteu e sentiu despertar em seu íntimo a vocação ministerial, ingressando no Seminário de Princeton. Matos escrevendo sobre os primeiros passos do pioneiro diz: Ashbel Green Simonton, o missionário fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil, era membro de uma das inúmeras famílias de origem escocesa-irlandesa que viviam no Estado da Pensilvânia. Simonton nasceu em 20 de janeiro de 1833 na localidade de West Hanover, no sul daquele estado. Era o filho mais novo do Dr. William Simonton, um médico que também abraçou a carreira política, tendo sido eleito duas vezes para o Congresso dos Estados Unidos. A mãe de Simonton, Martha Davis Snodgrass, era filha do Rev. James Snodgrass, que durante 58 anos foi pastor da Igreja Presbiteriana local. Após a morte do seu pai e do avô materno em 1846, Simonton, então com treze anos, e sua família mudaram-se para a cidade de Harrisburg, no mesmo estado, onde ele concluiu os estudos secundários. Desde cedo Simonton recebeu as melhores influências morais, intelectuais e espirituais da fé presbiteriana em que foi criado. Essas influências podem ser facilmente discernidas no Diário que escreveu a partir dos dezenove anos de idade O chamado missionário de Ashbel G. Simonton ocorreu no Seminário Teológico Princeton (14/10/1855), quando num sermão o Dr. Charles Hodge “falou da necessidade absoluta de instruir os pagãos antes de poder esperar qualquer sucesso na propagação do Evangelho e mostrou que qualquer esperança de conversões baseada em obra extraordinária do Espírito Santo comunicando a verdade diretamente não é bíblica.” Ainda no primeiro semestre de estudos, Simonton ouviu uma pregação do Dr. Charles Hodge (1797-1878), eminente teólogo e professor do seminário, que o fez pensar seriamente na possibilidade de devotar-se à obra missionária no estrangeiro. Uma das principais conseqüências dos grandes reavivamentos norte-americanos havia sido um profundo interesse por missões, ou seja, a preocupação em levar a mensagem cristã a outros povos. A primeira entidade surgida nos Estados Unidos com essa finalidade foi a Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras, criada pelos congregacionais em 1810. Em 1837, os presbiterianos também criaram a sua própria Junta de Missões Estrangeiras, que eventualmente começou a atuar em diversas regiões da Ásia, África e América Latina . No seu diário, transcrito em parte no livro “Simonton”, podemos ver sua luta interna. Aos 22 anos, sentiu uma necessidade de buscar seriamente a Deus pela oração e cuidadosamente leitura da Bíblia. Fez então sua pública profissão de fé e seguiu para o seminário de Princeton. Durante o curso, a idéia de ser missionário não o deixava em paz, até que escreveu à junta de missões se oferecendo para trabalho no Brasil. Desembarcou no Rio na Manhã ensolarada de 12 de Agosto de 1859. Ele descreve a experiência em seu diário hora por hora. Por volta das 9:30 da manhã ele escreve: "Estou acordado desde as quatro da manhã, observando as manobras para adentrar o porto contra o vento e a maré. É um lugar lindo, o mais singular e radiante que jamais vi (.......) Dei minha roupa de viagem ao cabineiro, em atenção aos serviços durante a viagem. Estou pronto para descer". As 14:15 Simonton estava sendo recebido por Robert C. Right, a quem entregou a carta de apresentação. Dois meses após sua chegada, Simonton escreve o seguinte: "Ser missionário sem Ter o amor fervoroso por Cristo e zelo pelas almas é mau negócio. Devo renovar minha consagração". CONCLUSÃO: Em apenas oito anos de ministério no Brasil, Simoton deixou-nos um legado de fé, trabalho e convicção de seu chamado para obra de Deus. Hoje todos os presbiterianos do Brasil é fruto deste trabalho pioneiro, que em suas lembranças muito nos edifica. Somente na IPB são hoje cerca de 268 presbitérios, 3650 Igrejas e 3200 congregações totalizando mais de 700000 membros. SOLI DEO GLORIA! *Mauro Ferreira de Souza é membro da Ordem dos Teologos do Brasil. É membro da Associação Internacional República e Laicidade. Membro da ABHR- Associação Brasileira de História das Religiões. Foi Ministro da Palavra e Sacramentos da Igreja Presbiteriana e Juiz do Tribunal Sinodal Eclesiastico da Igreja. Formação Acadêmica: Bacharel em Filosofia e Teologia (Universidade Mackenzie), Direito (UNIB), Especialista em Filosofia Contemporânea e Historia pela (Universidade Metodista) e Mestre em Ciências da Religião pela (Universidade Mackenzie). Doutorando em Filosofia. Professor de Filosofia, Filosofia do Direito, Teologia e História das Religiões.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

O GOVERNO NAS IGREJAS PRESBITERIANAS

O GOVERNO NAS IGREJAS PRESBITERIANAS



“A Deus pertence com exclusividade o governo de sua Igreja”. [João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 1.1), p. 22].


Existem pelo menos três tipos de governo no mundo cristão. 1º O Episcopal, cujo o principio é que um governa todos. A própria palavra já diz, ou seja, composto por bispos hierarquicos. É o governo da Igreja Católica, Aglicana e algumas igrejas evangélicas. 2º O Congregacional, cujo principio basico é que todos governam. Tudo é resolvido em assembleia da Igreja, até mesmo a disciplina dos membros. É o modelo da maioria de igrejas batistas e pentecostais. O 3º Presbiterial, cujo principio básico é que alguns governam todos com delegação da comunidade. Alguns governam quer dizer que: Os presbiteros eleitos pela comunidade são os representantes diretos do povo que os elegeram.  Este último é o nosso sistema. Cremos que este modelo tem respaldo maior nas Escrituras e é o mais democrático. Ver: Atos 11:30; 14:23; 15:2,4,6,22.

Governo Presbiteriano:

O governo da Igreja Presbiteriana como o proprio nome ja diz é presbiterial. É aquele composto na coletividade por pastores e presbiteros. Na Igreja local é exercido pelo Conselho, formado pelo Pastor, e pelos Presbíteros eleitos pela assembléia da Igreja. Sob a supervisão do Conselho, funciona a junta Diaconal, constituída de todos os Diáconos da Igreja, também eleitos pela assembléia da Igreja. Os diáconos cuidam da assistência social promovida pela Igreja e da ordem do culto, do Templo e suas dependências.
 Acima do Conselho local estão os demais Concílios da Igreja: Presbitério, Sínodo e Supremo Concílio.

Vale aqui algumas observações da CF (Confissão de Fé)  e da CI/IPB
Artigo 3º- O poder da igreja é espiritual e administrativo. (ver §2º do mesmo art.). 
            Aqui pela constituição da Igreja vemos o governo com duas nuances:  a espiritualidade  e a administração. Isso significa que existe uma ordem divina e uma logica administrativa humana que reflete a ordem divina. Em outras palavras pode-se dizer que é a Igreja visível e local exteriorizando a Igreja invisível.
Pela constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil, o sistema presbiteriano de governo é constituído por uma ordem de presbíteros cuja a origem é bíblica e vem se mantendo desde os primórdios de nossa igreja, sem sofrer modificações.
            O conselho da igreja é constituído pelos presbíteros, que são os ligítimos representantes do povo e responsáveis pelo legado administrativo e junto com o pastor, pelo legado espiritual da igreja.

            A Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil em seu Artigo 108, diz: “Vocação para o ofício na igreja é a chamada de Deus, pelo Espírito Santo, mediante o testemunho interno de uma boa consciência e a aprovação do povo de Deus por intermédio de um Concilio” e uma eleição.  Ver: (1Tm 3.1-13; Tito 1.5-9; 1Pe 5.1-4).

O Artigo 109 diz que: “Ninguém poderá exercer ofício na Igreja sem que seja regularmente eleito, ordenado e instalado no cargo por um concílio competente”.
§ 1º - Ordenar é admitir uma pessoa vocacionada ao desempenho do ofício na Igreja de Deus, por imposição das mãos, segundo o exemplo apostólico e oração pelo concílio competente.
§ 2º - Instalar é investir a pessoa no cargo para que foi eleita e ordenada.
§ 3º- Sendo vários os ofícios eclesiásticos, ninguém poderá ser ordenado e instalado senão para o desempenho de um cargo definido.

            Depois da vocação oriunda do próprio Deus como se dá a escolha dos oficiais da Igreja? Recorramos à Constituição que Diz:
Seção 2ª - Eleições de Oficiais
Art.110 - Cabe à assembléia da Igreja local, quando o respectivo Conselho julgar oportuno, eleger pastor efetivo, presbíteros e diáconos. Art.111 - O Conselho convocará a assembléia da Igreja e determinará o número de oficiais que deverão ser eleitos, podem do sugerir nomes dos que lhe pareçam aptos para os cargos e baixará instruções para o bom andamento do pleito, com ordem e decência.
Parágrafo Único - O pastor, com antecedência de ao menos trinta dias, instruirá a Igreja a respeito das qualidades que deve possuir o escolhido para desempenhar o ofício.
Art.112 - Só poderão votar e ser votados nas assembléias da Igreja local os membros em plena comunhão, cujos nomes estiverem no rol organizado pelo Conselho, observado o que estabelece o Art.13 e seus parágrafos.
Depois de cumprir esses passos, segue-se o processo de Instalação e posse na Igreja.
Seção 3ª - Ordenação e Instalação de Presbíteros e Diáconos
Art.113 - Eleito alguém que aceite o cargo e, não havendo objeção do Conselho, designará este o lugar, dia e hora da ordenação e instalação, que serão realizadas perante a Igreja. Art.114 - Só poderá ser ordenado e instalado quem, depois de instruído, aceitar a doutrina, o governo e a disciplina da Igreja Presbiteriana do Brasil, devendo a Igreja prometer tributar lhe honra e obediência no Senhor, segundo a Palavra de Deus e esta Constituição.
Segue-se ainda a posse e instalação segundo os princípios de liturgia constantes na CI/IPB, quanto aos Pastores, Presbíteros e Diáconos.  Posse e instalação de pastores Art.37 - Quando o ministro tiver de ser instalado como pastor-efetivo de uma Igreja, o Presbitério designará dia, hora e local para a cerimônia em culto público. Art.38 - Quando o pastor de uma Igreja for reeleito para novo exercício, o Conselho enviará ao Presbitério a ata de eleição e o pedido de renovação dos laços pastorais entre o eleito e a Igreja. O Presbitério, se não tiver objeções, deferirá o pedido.
Parágrafo Único - Recebida a comunicação favorável, o Conselho determinará imediatamente a leitura do documento, do púlpito, em dia de culto público, registrará em ata o seu inteiro teor e isto iniciará o novo exercício do reeleito.
Capítulo XII ordenação e instalação de presbíteros e diáconos
Art.26 - Quando a Igreja eleger alguém para o ofício de presbítero ou diácono, deverá o Conselho, julgadas a idoneidade do eleito para o cargo e a regularidade da eleição, fixar dia, hora e local para a ordenação e investidura. Art.27 - Em reunião pública, o presidente do Conselho ou o ministro que suas vezes fizer, realizará a cerimônia solenemente, com leitura da Palavra de Deus, oração e imposição de mãos dos membros do Conselho sobre o ordenando, cabendo-lhe também, em momento oportuno, fazer uma exposição clara e concisa da natureza do ofício, sua dignidade, privilégios e deveres. Art.28 - Os presbíteros e diáconos assumirão compromisso na reafirmação de sua crença nas Sagradas Escrituras como a Palavra de Deus e na lealdade à Confissão de Fé, aos catecismos e à Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil. Art.29 - Prometerão cumprir com zelo e fidelidade o seu ofício e também manter e promover a paz, unidade, edificação e pureza da Igreja. Art.30 - A Igreja comprometer-se-á a reconhecer o oficial eleito e prometerá, diante de Deus, tributar-lhe o respeito e a obediência a que tem direito, de acordo com as Escrituras Sagradas. § 1º - Após a ordenação, os membros do Conselho darão ao recém-ordenado a destra de fraternidade e, em seguida, o presidente o declarará solenemente ordenado e investido no ofício para
que foi eleito. § 2º - Quando o presbítero ou diácono for reeleito ou vier de outra Igreja Presbiteriana, omitir-se-á a cerimônia de ordenação.
Segue-se ainda a posse e instalação segundo os princípios de liturgia constantes na CI/IPB, quanto aos Pastores, Presbíteros e Diáconos.

            Para descrever sobre este assunto no contexto da Igreja Presbiteriana, primeiramente é necessário recorrermos às Santas Escrituras, sobre a importância dos oficiais na Igreja de Deus. Estes oficiais foram instituídos para o aperfeiçoamento dos santos, bem como no cumprimento do seu serviço de Deus na Igreja (Ef. 4:11). Por outro lado, é um oficio para realizar,  um trabalho especificamente separado como fora dos levitas no Antigo Testamento.

            Entretanto, cabe aqui um aleta! Pessoas com temperamento autocrático são desqualificadas para  liderança. Autocrático quero dizer: sem espírito coletivo.
As igrejas ou organizações cristãs quase sempre passam por alto este princípio. Suponha que chegue um homem com características naturais de liderança. Com certeza ele é um pouquinho arrogante. Gosta de controlar. Talvez, às vezes, ele exagere um pouco, mas o que é que tem? Ele tem "liderança". Deste modo ele obtém autoridade na organização. Resultado: pessoas feridas. Perdem-se boas pessoas que recusam ser o alvo de tal arrogância.
A liderança cristã enfoca mais em ajudar a outros que em mandar em outros. É uma vida dedicada ao serviço. Infelismente, a honra que levam os ofícios eclesiásticos atrai a muitos. Mas se as honras é sua motivação, estas pessoas terminam como líderes negligentes, mais preocupados com seu status que pelo bem-estar das pessoas, ademais do dano que fazem a si mesmos.
Em suma: Nem a habilidade natural da liderança nem a experiência nos negócios, nas empresas, no serviço público, nas forças armadas, na política secular, ou mesmo nos perfis psicológicos, são indicadores finais de que um homem deve ser um candidato para os ofícios cristãos (Pastores, Presbíteros e Diáconos) ou liderança cristã. Se ele mantém atitudes autocráticas, pensa hierarquicamente ou tende usurpar o poder de liderar dado pelo Senhor Jesus Cristo, neste sentido, ele está desqualificado como candidato, apesar de outras considerações.

Louis Berkhof (1994, p.599), acentua que: “Os oficiais da igreja recebem sua autoridade de Cristo, e não dos homens, mesmo que a congregação sirva de instrumento para instalá-los no ofício”.

Todas as confissões da Igreja pós-reforma sempre primaram pela ordenação de seus oficiais tendo sempre como pressuposto de que os ofícios são vocações santas e necessárias para a Igreja em todos os tempos, pois foi através disso que Deus tratou com os homens. Nesta perspectiva a Segunda Confissão Helvética (1562-1566), no capítulo XVIII, falando sobre os ministros da Igreja, declara:

É verdade que Deus poderia, pelo Seu poder, sem qualquer meio, congregar para Si mesmo uma Igreja de entre os homens; mas Ele preferiu tratar com os homens pelo ministério de homens. Por isso os ministros devem ser considerados não como ministros apenas por si mesmos, mas como ministros de Deus, visto que por meio deles Deus realiza a salvação de homens.

[...]...

domingo, 2 de dezembro de 2018

LITURGIA SINAGOGAL



DA LITURGIA SINAGOGAL PARA LITURGIA CRISTÃ: TRADIÇÃO E RUPTURA
Uma ruptura completa entre a Igreja e a Sinagoga está em contradição com a Sagrada Escritura e com a história da Igreja Cristã.  
No inicio da caminhada da Igreja chamada de “Igreja Primitiva” houve uma relação original entre ela e a Sinagoga, e com o tempo houve um distanciamento. Daí defender os dois aspectos na relação entre Igreja e Sinagoga é abordar a herança judaica nos aspectos litúrgicos que constituiu a liturgia da Igreja.
Vive-se hoje, ainda, uma certa ignorância em relação ao povo do Antigo Testamento. Há muitos que crêem que o judaísmo desapareceu com a queda de Jerusalém no ano 70 d.C. , mas sobretudo existe o desconhecimento quanto à liturgia, da qual a cristã herdou muitos elementos e modelos.
Por outro lado, o cristianismo atual tem deixado o assunto “liturgia em segundo plano, cultivando desta maneira um dualismo segregador entre as tradições antigas e modernas, entre o conceito cristão de Igreja e Sinagoga e consequentemente uma separação entre o Antigo e Novo Testamentos, com isso uma ideia dispensacionalista de Igreja. Dai se desenvolveu a idéia de que a liturgia da Igreja Cristã foi apenas produto dos primeiros cristãos, desenvolvendo a idéia de que as tradições judaicas são negativas para a Igraja. Estas ideias em minha opinião, desvalorizou não somente as tradições litúrgicas da sinagoga como também todo o Antigo Testamento. Por detrás disso, existe o pressuposto de uma perspectiva limitada das Sagradas Escrituras baseada em dispensações defendidas por aqueles que querem dividir as Escrituras de forma histórica linear sem dar muita importância para a ideia de “aliança” e para o Novo Testamento, bem como  para a historicidade da Igreja.
Jesus cumpriu as Sagradas Escrituras como Ele mesmo diz. Ele fez uso dos textos e da liturgia judaica. O mesmo fizeram Maria, os apóstolos, e a Igreja primitiva por muitos decênios.
Pode-se correr o risco de achar que atualmente o rito e a influência hebraica tenha desaparecido, não levando em conta o fato de que ele é hoje uma experiência espiritual para milhões de judeus religiosos contemporâneos. Ao contrário, lembrar-se de que esta fé continua as ser vivida ainda hoje, pode ajudar a Igreja a não se esquecer de que recebeu a revelação do A.T. por intermédio daquele povo, com o qual, Deus, em sua inefável misericórdia, se dignou fazer a antiga Aliança, e que, como escreve o apóstolo Paulo, “os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Rm 11,29).
Conhecer a liturgia judaica não é só aumentar a própria bagagem histórica e cultural, mas sobretudo penetrar na alma em oração do povo judeu, que através do séculos eleva sua voz e louvor e de invocação a um Deus que é o mesmo Deus de Jesus e dos cristãos, o único Deus de todos os homens e de todas as religiões.
É com certeza nesse nível que a liturgia judaica e cristã encontram, como “irmãs”, os seus maiores pontos de contato e consonância: isto porque tanto uma como outra anunciam o Reino de Deus, proclamam e santificam o Seu nome, louvam-no, agradecem e invocam seu advento. A santificação do Nome, a qedushat hashem, é o coração tanto da liturgia hebraica como cristã, o verdadeiro ponto de encontro e de confronte dos dois povos da aliança.
 *Mauro Ferreira - TCC apresentado à Universidade Presbiteriana Mackenzie (Faculdade de Teologia) no Programa de validação de créditos da graduação como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Teologia. (2005). 


quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A Igreja, o Estado e os Pré-Reformadores


A Igreja, o Estado e os  Pré-Reformadores

O século XIV começara a despontar não somente para os Estados nacionais, como também para o sentimento de reforma da Igreja. Neste século destaca John Wycliffe (1328-1384) na Inglaterra e João Husss (1373-1415) na Boêmia (hoje República Tcheca e Eslováquia).
Wycliff[1], Hus e Wessel, fundadores de movimentos reformadores da Igreja nos séculos XIV e XV, seguiram o exemplo de São Francisco de Assis ao contrapor à Igreja com seu poder e seu casamento com o Estado. Propunha uma Igreja visível, espiritual e pobre, sem poderes nem estruturas separada totalmente do Estado[2]. Nesses mesmos séculos, difundiram-se correntes espirituais e místicas, que acentuavam a dimensão íntima e subjetiva na experiência com Deus ou que evidenciavam unilateralmente a onipotência da graça divina, chegando até a considerar inúteis as obras do cristão para sua salvação. Essas idéias terão lugar fundamental na doutrina luterana.
Na Inglaterra Wycliffe recebe o apoio de alguns políticos e religiosos que defendiam o nacionalismo inglês contrario aos domínios, francês e Romano, especialmente na questão secular pela Igreja.
Ao mesmo tempo em que defendia que a Igreja deveria retornar à primitiva pobreza dos tempos apostólicos, Wyclif também entendia que o poder da Igreja devia ser limitado à s questões espirituais, sendo o poder temporal exercido pelo Estado, representado pelo rei. Seu livro “De officio regis” defendia que o poder real também era originário de Deus, encontrava testemunho nas Escrituras Sagradas, quando Cristo aconselhou “dar a César o que é de César”. Era pecado, em sua opinião, opor-se ao poder do rei e todas as pessoas, inclusive o clero, deveriam pagar-lhe tributos. O rei deve aplicar seu poder com sabedoria e suas leis devem estar de acordo com as de Deus. Das leis de Deus se deriva a autoridade das leis reais, inclusive daquelas em que o rei atua contra o clero, porque se o clero negligencia seu ofício, o rei deve chama-lo a responder diante de si. Ou seja, o rei deve possuir um “controle evangélico” e quem serve à Igreja deve submeter-se à s leis do Estado. Os arcebispos ingleses deveriam receber sua autoridade do rei (não do papa).
Este livro teve grande influência na reforma da Igreja, não apenas na Inglaterra, que sob Henrique VIII passaria a ter a igreja subordinada ao Estado e o rei como chefe da Igreja, mas também na Boêmia e na Alemanha. Especialmente interessantes são também os ensinamentos que Wyclif endereça aos reis, para que protejam seus teólogos. Ele sustentava que, já que as leis do rei devem estar de acordo com as Escrituras, o conhecimento da Bíblia é necessário para fortalecer o exercício do poder real. O rei deveria cercar-se de teólogos para aconselha-lo na tarefa de proclamar as leis reais.
Ao mesmo tempo em que defendia que a Igreja deveria retornar à primitiva pobreza dos tempos apostólicos, Wycliffe também entendia que o poder da Igreja devia ser limitado à s questões espirituais, sendo o poder temporal exercido pelo Estado, representado pelo rei.
O livro de sua autoria “De officio Regis” defendia que o poder real também era originário de Deus, encontrava testemunho nas Escrituras Sagradas, quando Cristo aconselhou “dar a César o que é de César”, no entanto esse poder deveria ser separado do poder religioso, pois para ele a Igreja pertencia a uma instância espiritual especial,  aonde representava o poder do evangelho em Cristo. Portanto um poder intrinsecamente espiritual. Era pecado, em sua opinião, opor-se ao poder do rei e todas as pessoas, inclusive o clero, deveriam pagar-lhe tributos. O rei deve aplicar seu poder com sabedoria e suas leis devem estar de acordo com as de Deus. Das leis de Deus se deriva a autoridade das leis reais, inclusive daquelas em que o rei atua contra o clero, porque se o clero negligencia seu ofício, o rei deve chama-lo a responder diante de si. Ou seja, o rei deve possuir um “controle evangélico” e quem serve à Igreja deve submeter-se à s leis do Estado. Os arcebispos ingleses deveriam receber sua autoridade do rei (não do papa).
Ele sustentava que, já que as leis do rei devem estar de acordo com as Escrituras, o conhecimento da Bíblia é necessário para fortalecer o exercício do poder real. O rei deveria cercar-se de teólogos para aconselhá-lo na tarefa de proclamar as leis reais.
Tanto Wycliffe como Huss deixaram bem definidas suas posições em relação a questão Igreja e Estado.
As idéias do pré-reformador inglês Wycliffe expressas em sua obra "Sobre o Senhorio Civil" escrita em 1376 foram bem aceitas em seu país. A Inglaterra desde o século XII vivi um clima de reação nacionalista contra a interferência da Igreja Católica nos assuntos do Estado. Em sua eclesiologia, Wycliffe ensinava que a Igreja deve ser regida pela lei de Cristo que é a lei do amor e que se expressa através do serviço ao próximo. Por essa razão ela tem que ser pobre; não pode controlar a economia nem a política. O rei deveria interferir nos casos de enriquecimento abusivo do clero. O papa torna-se um herege quando aceita o domínio do mundo, pois transgride a lei de Cristo que é a lei da pobreza. O poder do papa é apenas espiritual e quando quer tornar-se príncipe na realidade transforma-se em anticristo. (VASQUES, 2005, p.20 Apud Tillich, 1988, p.189-193).
João Huss adepto das idéias de Wycliffe propagou-as na Boêmia, com o mesmo sentimento anti-pontificial, tornando claras essas idéias na sua obra "De Ecclesia", na qual não só propõe uma reforma na Igreja, mas a separação do poder secular e poder religioso. [.....]. 



[1] John Wyclif (ou Wycliffe) foi professor da Universidade de Oxford, teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas religiosas que sacudiram a Europa nos séculos XV e XVI (ver: Reforma Protestante). Trabalhou na primeira tradução da Bíblia para o idioma inglês, que ficou conhecida como a Bíblia de Wyclif. Wyclif então se retirou para sua casa em Lutterworth, onde reuniu sábios que o auxiliaram na tarefa de traduzir a Bíblia do latim para o inglês. Enquanto assistia à missa em Lutterworth, no dia 28 de dezembro de 1384, foi acometido por um ataque de apoplexia, falecendo 3 dias depois, no último dia do ano.A influência dos escritos de Wyclif foi muito grande em outros movimentos reformistas, em particular sobre o da Boêmia, liderado por Jan Huss e Jerônimo de Praga. Para frear tais movimentos, a Igreja convocou o Concílio de Constança (1414 – 1418). Um decreto deste Concílio (expedido em 4 de maio de 1415) declarou Wyclif como herético, recomendou que todos os seus escritos fossem queimados e ordenou que seus restos mortais fossem exumados e queimados, o que foi cumprido 12 anos mais tarde pelo Papa Martinho V. Suas cinzas foram jogadas no rio Swift, que banha Lutterworth.
[2] Para uma pesquisa mais abrangente sobre o tema ver: TREVOR-ROPER, H. R. Religião, Reforma e Transformação Social. Lisboa: Editorial Presença/ Martins Fontes, 1972.


sábado, 4 de novembro de 2017

OS CINCO SOLAS DA REFORMA

OS CINCO SOLAS DA REFORMA

Em primeiro lugar, a fé e a pratica reformada reafirma os famosos cinco “solas”  que a principio foram formulados pelos luteranos como expressão condensada da grande reforma realizada por Martinho Lutero no século XVI.
Os cinco “solas” da reforma também chamados de “Declaração de Cambridge” se resume em:  “Sola Scriptura – Somente as Escrituras, Sola Fide – Somente pela Fe, Solus Christus – Somente Cristo, Sola Gratia – Somente a Graca, Soli Deo Gloria – Somente gloria a Deus.
A palavra latina Solas significa “somente”. Os reformadores definiram cinco lemas usando essas palavras e suas variações.

A Fé Reformada que é a mesma fé apostólica busca manter corretamente entendido o ensino integral das Sagradas Escrituras. Não temos espaço aqui para desenvolver as ênfases específicas da Fé Reformada.

1.      SOMENTE AS ESCRITURAS – SOLA SCRIPTURA
A Bíblia antes da reforma religiosa do século XVI era conhecida somente pelos estudiosos da Igreja Católica que a utilizavam como bem entendiam. A Igreja defendia praticas totalmente estranhas a Palavra de Deus ensinado “doutrinas que são preceitos de homens” (Mc 7.7). O movimento da Reforma disse “não” a esse procedimento da Igreja Romana e afirmou Sola Scriptura, ou seja, somente cremos e praticamos o que a Bíblia ensina, somente a Bíblia deve ser a nossa regra de fé e pratica. Os reformadores se empenharam em traduzir a Bíblia para que todas as pessoas tivessem acesso a ela e pudessem julgar os ensinos da Igreja por meio do próprio estudo da Palavra. Muitas vezes não dar-se o devido valor ao fato de hoje termos a facilidade da Palavra de Deus impressa em nossa própria língua e não a estuda-se tanto quanto deve-se. Lembre-se: devemos ser guiados somente pelas Escrituras.
            Confissão De Fé De Westminster confirmando este ponto da Reforma protestante, no Capítulo I sobre as  - Da Escritura Sagrada diz:
I. Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo.
Referências - Sal. 19: 1-4; Rom. 1: 32, e 2: 1, e 1: 19-20, e 2: 14-15; I Cor. 1:21, e 2:13-14; Heb. 1:1-2; Luc. 1:3-4; Rom. 15:4; Mat. 4:4, 7, 10; Isa. 8: 20; I Tim. 3: I5; II Pedro 1: 19.
II. Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são os seguintes, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e de prática.
A Confissão de Fé Belga em meio à muita resistência da Igreja Romana na época publicou: “Cremos e confessamos que a palavra de Deus não foi enviada nem produzida "por vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo", como diz o apóstolo Pedro (2 Pedro 1:21). Depois, Deus, por seu cuidado especial para conosco e para com a nossa salvação, mandou seus servos, os profetas e os apóstolos, escreverem sua palavra revelada. Ele mesmo escreveu com o próprio dedo as duas tábuas da lei. - (CFB-ART. 3).
A Bíblia é a revelação da vontade e da pessoa de Deus. “o homem não vive só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor” (Dt 8.3). Mas as pessoas tentam por natureza viver de pão apenas sem aquela Palavra; eles tentam viver pela sua própria sabedoria (cf. Sl. 36.1-4). A verdade, entretanto, é que homem nenhum pode viver sem a luz da revelação especial de Deus. Isto era verdade para o primeiro homem criado, Adão, mesmo antes de ele cair em pecado ao negar a luz de Deus e desobedecê-LO. Adão, embora criado perfeito e com a lei de Deus inscrita em seu coração, mesmo assim necessitava de que uma luz exterior brilhasse sobre ele para habilitá-lo a andar de acordo com as ordens de Deus. Adão ainda necessitava de que Deus falasse com ele. Ele sabia muito, em virtude de ter sido feito à imagem de Deus, mas ainda necessitava da voz divina. E é também assim com todos os descendentes de Adão, gostem eles ou não de ouvir isto. Em Romanos 1.21, o apóstolo Paulo faz a surpreendente afirmação de que por natureza todos sabem a respeito da existência e poder de Deus devido ao Seu trabalho na criação do universo, e ainda assim rejeita e despreza essa luz que eles têm. Desde a queda da humanidade, a vontade humana foi grosseiramente pervertida. Cada um de nós, afastados da ação salvadora de Deus, quer seguir seu próprio caminho, ao invés do caminho de Deus. Este caminho, expresso na lei de Deus, é parte do íntimo do nosso ser. Ninguém pode escapar da consciência, a qual gera uma constante atividade de acusar ou desculpar. Mas a linha básica é que, afastados do trabalho regenerador de Deus, todos nós odiamos a lei de Deus porque somos descendentes do Adão caído (cf. Jo 3.19-20). Conseqüentemente, nossa única esperança é o Evangelho. Após declarar que o homem ama a escuridão, Jesus disse “Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus.” (Jo 3.21). As Escrituras Sagradas são “indispensáveis” porque somente através dela vem “aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação” (Confissão de Fé de Westminster I.1).
 Os cristãos precisam da Bíblia continuamente. Disse Jesus “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos;” (Jo 8.31).
Por outro lado, os crentes mostram-se serem felizes portadores da graça de Deus ao obedecer a Sua Palavra e andar na Sua luz.
A Bíblia está livre de erros, uma vez que foi entregue pelas mãos de Deus. O salmista diz o seguinte: “A lei do Senhor é perfeita... Os estatutos do Senhor são dignos de confiança... Os preceitos do Senhor são justos... O temor [objeto de referência, chamado, a Palavra de Deus] do Senhor é puro” (19:7-9). A ultima característica significa “sem defeito”. Será que nós imaginávamos de outra forma, sabendo que a Bíblia é o sopro de Deus? (Ref. 2 Tim. 3:16, “Toda escritura é inspirada por Deus” e 2 Pe. 1:21, “Pois a profecia nunca teve sua origem na vontade humana, mas os homens falaram de Deus sendo levados pelo Espírito Santo.”- O verbo grego para “sendo levados” algumas vezes descreve o efeito que o vento faz em um barco a velas.). A Bíblia não caiu do céu. Homens escreveram, mas com sua forma de escrita, com toda variedade de vocabulário e estilo próprio, o Espírito Santo, pela sua palavra e exposição, foi determinante para o resultado da Palavra. Os autores humanos foram levados pelo seu poder, assegurando que o produto seria sem defeito. Conseqüentemente, como a Fé Reformada insiste, a Bíblia é infalível e absolutamente digna de confiança.
A Bíblia é clara e isso é fruto de sua inerrância. Salmo 19:8 diz, “Os mandamentos do Senhor são radiantes, trazendo luz aos olhos.” A analogia (trazer luz) é: sem mácula, pura, que não se mistura com outro material conflitante ou controverso. A Bíblia não seria clara se houvesse uma mistura de verdades e erros. Isso não quer dizer que tudo o que contém na Bíblia está igualmente formado. Existem doutrinas nas Sagradas Escrituras que confundem a mente. Nos sabemos o que a doutrina da Trindade não significa (a igreja primitiva gastou centenas de anos para definir as “explicações”!). Nós sabemos como a Bíblia nos apresenta esse assunto: existe um só Deus; esse Deus único existe em três pessoas; cada pessoa é distinta. As crenças reformadas não declaram poder esclarecer isto. Mas eles firmemente crêem nisto. Não há uma necessidade para que “experts” no assunto, nos guiem através “caminhos obscuros”. Pois como diz nossa confissão de fé: “Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em um ou outro passo da Escritura são tão claramente expostas e explicadas, que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas.” (CFW, I-7).
            Para facilitar a compreensão do leitor elaboramos um questionário com perguntas e respostas, o qual segue:
1) O que é a Bíblia e qual o significado?
É um conjunto de  livros. Significa que a reunião de vários livros em um só.
2) O que são as Santas Escrituras?
É a Palavra revelada por Deus a homens por inspiração divina
3) O que é Canon Sagrado?
Medida certa. Isso significa que tomada no contexto cristão são todos os livros totalizados para fazer parte da Escritura Sagrada, ou seja, da Bíblia
4) Em que língua foi escrita  a Bíblia e quem traduziu para o português?
A Bíblia originalmente foi escrita em Hebraico o Velho Testamento e o Novo em Grego. Ela foi traduzida para o português pela primeira vez por João Ferreira de Almeida em 1681.
5) Quem traduziu os primeiros tetextos originais da Bíblia?
Jerônimo, ou São Jerônimo como é conhecido em 400 AD.,  traduziu dos originais grego e hebraico para o latim, chamado também de vulgata latina
6) Existe diferença entre a versão católica romana para a Bíblia Evangélica?
Não, porem existe na Bíblia católica um acréscimo de sete livros do Velho Testamento, os quais foram considerados pelos reformadores como apócrifos.
7) Quais os livros acrescentados pela Igreja Romana e por que acrescentaram?
Tobias, Judite, Macabeus I e II, Sabedoria, Baruc e Eclesiástico. São livros históricos e poéticos, nos quais existem muitas passagens que defendem tradições católicas romanas, como ensino sobre anjo da guarda Rafael em Tobias e oração pelos mortos em Macabeus. A Igreja Católica acrescentou esses livros ao Canon no concílio de Trento, no dia 15 de abril de 1546
8) Qual é o ensino fundamental da Bíblia?
Revelar o Plano eterno e salvífico em Cristo. Mas para o homem não regenerado, são como a luz para o cego (Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana- ver CM pergunta 5 e Breve Catecismo, perguntas 2 e 3)
9) O que é inspiração e como ela se deu para escrever as Santas Escrituras?
Influência supernatural ou supranatural do Espírito de Deus, agindo nos espíritos dos escritores sacros, chamada ‘inspiração’; o qual os acompanhou uniformemente em tudo quanto escreveram. (Ver CF item II)
Há de explicar um pouco porque a Bíblia das edições católicas romanas existem sete livros a mais das Bíblias das edições protestantes.
A pergunta de número (7) sete do nosso questionário sobre as Escrituras já nos dá uma pista muito clara do acréscimo. Mas cabe aqui uma explicação. A.A. Hodge ao explicar esta parte da confissão de fé diz:
Esses livros não têm direito a um lugar no cânon, prova-se pelos seguintes fatos: (1.) Nunca fizeram parte das Escrituras hebraicas. Sempre foram rejeitados pelos judeus, a quem foi confiada a guarda das Escrituras do Velho Testamento. (2.) Nenhum deles jamais foi citado por Cristo ou pelos apóstolos. (3.) Jamais fizeram parte da lista dos livros canônicos feita pelos Pais antigos; e mesmo na Igreja Romana, sua autoridade não foi aceita pelos homens mais eruditos e piedosos, até após a elaboração de um artigo de fé pelo Concílio de Trento, final do século dezesseis. (4.) A evidência interna apresentada por seu conteúdo refuta suas reivindicações. Nenhum deles justifica qualquer argumento em favor da inspiração; ao contrário, o melhor deles a elimina. Alguns deles consistem de fábulas pueris e inculcam maus costumes”. (HODGE: 1998, p.10).
Falando sobre os Apócrifos diz Reverendo Adão Carlos, (São Paulo: CEP, 1990, p.4):
 16. Por que a Bíblia “católica” tem 7 livros a mais do que a “nossa” Bíblia?
R. Porque o concílio de Trento, no dia 15 de abril de 1546, anexou, por decreto, esses livros à Bíblia. Nós não aceitamos e a “nossa” Bíblia não os tem porque eles não tem  em as evidências externas nem as evidências internas de que são inspirados por Deus. A Igreja Católica Romana nos acusa de termos retirado 7 livros das Escrituras. No entanto, foi ela que os acrescentou à Bíblia, no concílio de Trento. Este concílio foi “a contra reforma”.
            Para conclusão deste capítulo vale aqui as observações e comentários de A.A. Hodge:
Que as Escrituras contêm um sentido tão claro, que tudo quanto é necessário ao homem saber, seja para sua salvação, seja para guiá-lo em seus deveres práticos, pode-se aprender dela; e - Que elas são destinadas ao uso pessoal, e são adaptadas à instrução tanto do indouto quanto do douto. Os protestantes admitem que muitas das verdades reveladas nas Escrituras, por sua própria natureza, transcendem a compreensão humana, e que muitas profecias permanecem intencionalmente obscuras até que sejam esclarecidas pelo seu cumprimento na evolução da história. Não obstante, os protestantes afirmam, e os romanistas negam – (1.) Que cada artigo essencial de fé e regra de prática pode ser claramente deduzido da Escritura; e (2.) Que pode-se seguramente admitir que cada cristão particular e inculto interprete pessoalmente a Escritura. Em contrapartida, é verdade que, com o avanço histórico e crítico do conhecimento, e por meio das controvérsias, a Igreja como uma comunidade tem feito progresso na acurada interpretação da Escritura e na plena compreensão de todo o sistema de verdade ali revelado”. (IBID: 1998, p. 16).
Uma das frases célebres que marcou a vida do reformador Martinho Lutero foi: “Da mesma forma como vamos até o berço tão-somente para encontrar um bebê, também recorremos às Escrituras apenas para encontrar Cristo”.  Neste sentido, o primeiro passo do progresso na vida do crente é encontrar na Bíblia a salvação em Cristo. Por outro lado, a única fonte visível desta certeza da salvação em Cristo é encontrada na Bíblia. Além disso, temos as promessas e garantias que são feitas por Deus. Os cristãos precisam tê-las gravadas em suas mentes. E foi para isto que a bíblia foi escrita.  Na epístola de João vemos: “Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que crêem no nome do Filho de Deus, para que vocês saibam que têm a vida eterna.” (1João 5.13).
Um dos mais importantes sermões de John Wesley  sobre a Bíblia ele diz: “Quero conhecer uma coisa: o caminho para o céu... O próprio Deus dignou-se a ensinar o caminho... Ele o escreveu em um livro. Oh, dá-me esse livro! A qualquer preço, dá-me o livro de Deus!”.
O estudo e leitura da Palavra de Deus são tão importantes para o progresso na vida do crente que o próprio Jesus afirmou: “Se vocês permanecerem em mim e as minhas palavras em vós pedirão o que quiserem, e lhes será concedido”. (João 15.7). Isto significa que a leitura e o estudo da Palavra de Deus é o modo em que a Palavra de Deus permanece em nós, concedendo-nos poder  na oração, no discernimento e familiarização com a vontade de Deus para nossa vida.
Infelizmente a maioria dos cristãos crê que estão “ocupados demais” nos seu dia-a-dia, para revigorarem a mente com a Palavra de Deus. O que não percebem é que ter tempo é uma questão de estabelecer prioridades e preferência, e que em longo prazo, um momento devocional não custaria  nada, pois o restante do dia será com certeza mais proveitoso, do que se negligenciasse a leitura bíblica.
Portando reserve parte do seu tempo diário para leitura, meditação e estudo da Palavra, pois certamente você terá muito progresso na sua vida.
Assim, podemos concluir com alguns jargões que são reais em seus significados: leia a Bíblia para ser sábio, creia na Bíblia para ser salvo, pratique a Bíblia para ser santo.
Deus deixou sua Palavra, a Bíblia Sagrada ao seu povo para que, por meio dela seu povo viesse a alimentar-se espiritualmente. Da mesma forma como Deus enviava o pão dos céus ao israelitas quando peregrinavam em direção à terra prometida, hoje o Senhor continua enviando alimento espiritual, através de sua palavra enquanto peregrinamos nesta terra em direção ao lar celestial.
            Abaixo seguem-se sete motivos para nós, cristãos lermos sua Palavra a cada dia.
1. Ela nos tornará cristãos mais fortes
            Ninguém deseja ser fraco, quer seja física ou espiritualmente. Os “jovens” de 1João 2.14 já não eram mais “filhinhos”, eram fortes, porque a Palavra de Deus permanecia neles e eles haviam vencido o maligno. Isto significa que haviam se alimentado da Palavra de Deus e não estavam mais sendo constantemente derrotados pelo pecado e pelas tentações. Existe somente um modo para se crescer e fortalecer-se espiritualmente: a leitura e o estudo da Palavra de Deus.
            Geralmente as pessoas que fracassam espiritualmente  têm um denominador em comum: a negligência da leitura da Palavra de Deus. Todos estes fracassos (e conseqüente infelicidade) poderiam ter sido evitados, se houvessem aprendido a ler e estudar a Palavra de Deus constantemente.
2. Ela nos dará certeza da salvação
            A primeira  necessidade de um cristão é adquirir certeza absoluta de sua salvação. Ela as vezes parece boa demais para ser verdade. Por isso uma das primeiras dificuldades que um novo convertido encontra, depois que se afasta um pouca da pessoa que o conduziu a Cristo, é abrigar algumas dúvidas a respeito da salvação. A única fonte visível desta certeza é a Bíblia. Mas de que vale ela, se ele não a lê? As promessas e garantias que são feitas por Deus serão de pouco valor, se permanecerem encerradas entre as páginas da Bíblia. Os cristãos precisam tê-las gravadas em suas mentes. E foi para isto que a bíblia foi escrita.  Notemos 1João 5.13: “Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que crêem no nome do Filho de Deus, para que vocês saibam que têm a vida eterna.”
            O cristão que tem uma certeza sólida que é filho de Deus, que Ele é o seu Pai celestial, possui as bases para viver uma vida cristã sadia. A grande maioria das pessoas que vivem sobrecarregadas de temores, preocupações e outras fraquezas emocionais, geralmente não em certeza da salvação e de que Deus está cuidando dela. Ninguém poderá ter certeza das coisas de Deus enquanto se limitar aos seu próprios pensamentos, pois como a Bíblia ensina, o conceito de Deus não vem pelo muito pensar, mas pela “sabedoria de Deus” - a Bíblia (1Co 1.21). A Bíblia também afirma que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e incorrigível. Quem o entenderá? (Jr 17.9). Se alguém deseja a certeza da salvação, então deve começas a ler a Bíblia regularmente - é a única fonte de onde pode-se obtê-la.

3. Ela nos dará confiança e poder na oração
            Quando você se torna um cristão, passa a ter um relacionamento com Deus, e esse relacionamento inclui um diálogo. Mas como sabemos que Ele nos ouve? Porque Ele afirma em sua Palavra, em inúmeros textos. A passagem de 1João 5.14,15 ensina que podemos orar com a confiança de que Ele nos ouve. Em João 15.7 o Senhor Jesus promete: “Se vocês permanecerem em mim e as minhas palavras em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido”. Isto significa que a leitura da Palavra de Deus (que é o modo que a Palavra de Deus permanece em nós) nos concede poder na oração, pois ao estudarmos sua Palavra, ficamos familiarizados com a vontade de Deus, e consequentemente aprendemos a orar com eficácia.
4.      Ela nos capacitará a testemunharmos de nossa fé
            A maioria das pessoas que encontramos, desconhecem quase que totalmente os conceitos bíblicos. Muitas têm dúvidas ou indagações, e precisam de orientação de alguém que conheça a Bíblia. Atualmente a maioria dos cristãos, são superficiais com relação ao conhecimento da Palavra de Deus, desta forma, isto gera também um testemunho superficial. É dever de todo cristão ter um conhecimento básico da Palavra de Deus e saber explicá-la.  Como sua Palavra nos diz: “...estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vocês, fazendo-o todavia com mansidão e temor” (1 Pe 3.15,16). O único modo de responder ao que nos indaga e ao que zomba ou ao pesquisador sincero que busca o conhecimento da verdade, é nos prepararmos por meio da leitura e estudo diário da Bíblia.
            Ninguém pode transmitir aos outros aquilo que não sabe. Quase todo o crente dar fruto, e testemunhar de Cristo a outros de maneira positiva, mas isto é totalmente impossível se ele não tiver, pelo menos, um conhecimento elementar da Palavra de Deus. A Bíblia afirma que o Espírito Santo nos fará lembrar da Palavra de Deus no momento oportuno (Jo 14.26), porém como o Espírito nos lembrará daquilo que não lemos?

5. Será uma garantia de sucesso e nos orientará nas decisões da vida.
            Todo mundo quer ter sucesso na vida. É por isso que os livros que ensinam como vencer na vida são tão populares hoje em dia. Ninguém leria um livro que ensinasse a fracassar. Há uma interessante passagem bíblica em Josué 1.8: “Não cesses de falar deste livro da lei; antes media nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo a tudo quanto nele está escrito; então farás prosperar o teu caminho e serás bem sucedido”. A meditação diária da Palavra de Deus produz sucesso. E certamente assim aconteceu com Josué.
            A Bíblia também nos orienta a tomarmos decisões com sabedoria, conforme o Salmo 119.105: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho”. Os princípios de Deus nos servem de guia, quando temos de tomar decisões.   
            Examinando o Salmo 1, encontramos a fórmula para uma vida bem sucedida: “bem aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta à roda dos escarnecedores. Antes o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita dia e noite. Ele é como árvore plantada junto à corrente de águas, que no devido tempo, dá o seu fruto, cujas folhas não caem. Tudo o que fizer prosperará”.
            Infelizmente a maioria dos cristãos crêem que estão “ocupados demais” nos seu dia-a-dia, para revigorarem a mente com a Palavra de Deus. O que não percebem é que ter tempo é uma questão de estabelecer prioridades e preferência, e que a longo prazo, um momento devocional não custaria  nada, pois o restante do dia será com certeza mais proveitoso, do que se negligenciasse a leitura bíblica.


quarta-feira, 18 de maio de 2016

O CALVINISMO E A FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO

Considerações Iniciais

Abraham Kuyper foi um grande pesquisador de Calvino de todos os tempos. Este Teólogo, Pastor e político não se limitou ao seu trabalho paroquial na Igreja Reformada da Holanda, mas influenciou o Parlamento como Primeiro Ministro.

Kuyper com seu rigor acadêmico, estudou Calvino alem da perspectiva exegética. Entendeu que Calvino com o seu ensino acerca do reino de Deus trazia a idéia de que a Igreja abrange todas as áreas, especificamente o governo civil.

No seu clássico sobre “O Calvinismo”, Kuyper diz que Calvino  abomina a religião limitada ao gabinete, à cela ou à igreja. Como o salmista, ele invoca o céu e a terra, convoca todas as pessoas e nações a dar glória a Deus. Diz mais: “Deus está presente em toda vida com a influência de seu poder onipresente e Todo-Poderoso e nenhuma esfera da vida humana é concebida na qual a religião não sustente suas exigências para que Deus seja louvado, para que as ordenanças de Deus sejam observadas, e que todo labor seja impregnado com sua ora em fervente e contínua oração”.

Outro grande pensador que mencionou a visão política de Calvino nos seus escritos foi o filósofo Rousseau. No Contrato Social, assim se referiu a Calvino: “Os que consideram Calvino somente um teólogo não conhecem bem a extensão de seu gênio. A redação de nossos sábios editos, da qual participou ativamente, honra-o tanto quanto sua Instituição. Qualquer que seja a revolução que o tempo possa trazer a nosso culto, enquanto o amor à pátria e à liberdade não se extinguir entre nós, jamais a memória desse grande homem deixará de ser abençoada”.

É salutar dizer que Calvino não criou e nem quis criar uma teoria política. Sua preocupação era a de formar bons cidadãos e pessoas preparadas para o governo civil a partir das Escrituras, e, que estas pessoas expressassem a gloria de Deus em qualquer área da sociedade. Para Calvino, as Sagradas Escrituras oferecem-nos o escopo de nosso pensar e agir em todas as áreas inclusive no governo civil ou Parlamento. Tal era a ênfase de Calvino nas Escrituras e na Soberania de Deus que levou muitos governantes a promoverem a liberdade civil e política na França, Holanda, Inglaterra, e Escócia.

Weber, Leith, Tawney, Biéler, Schaff, Skinner,  Kuyper, são unânimes em dizer que o pensamento calvinista influenciou as democracias da América e da Europa criando uma concepção de Estado Moderno que perdura até hoje.


A despeito destas interpretações, veja o que Biéler diz sobre o que Calvino pensava da política ou do Estado: “[...] não é, pois, um mal necessário, mas um instrumento da providência divina”. (André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 369).
CAPITULO I

1. Panorama Histórico

1.1 As Relações Estado – Igreja antes da Reforma

A Igreja Católica Romana desde o apogeu do Império Romano desempenhou um papel de grande relevância e influência no continente europeu e, com maior intensidade, no período correspondente à Idade Média, por haver estabelecido, nos séculos anteriores, o conceito do trabalho servil, já que a Igreja desempenhava funções laicas e religiosas.
[...] nas ordens monásticas do Ocidente o trabalho manual e o intelectual estavam unidos providencialmente a serviço de Deus. O pesado trabalho agrícola adquiria a dignidade do culto divino, e era desempenhado por monges letrados (ANDERSON, 1991, p.129).
Percebeu-se também uma intensificação dessas relações, que se refletiu na sociedade laica.
Com isso, a Igreja se assemelhava ao Estado, tornando-se cada vez mais parecida com um “governo cristão”. A esse respeito, o civilista Lucas de Penna (1990), ao citar Tomás de Aquino, diz que: “Portanto, a Igreja é comparável a uma congregação política de homens e o papa é como um rei em seu reino por conta da plenitude de seu poder”.
Nesta mesma opinião, Kantorowicz (1998) diz que: “os reis dependiam da aprovação e bênção do papa, pois, quando o papa falava todo o mundo calava-se”.
A aliança entre a Igreja e o Estado remonta o IV século no apogeu do Império Romano. A partir de 311 A.D, terminam as perseguições aos cristãos. Posteriormente, o Imperador Constantino I em 313 d.C garantiu liberdade de culto aos cristãos. Mais tarde em 380 d.C, no reinado de Teodósio I, acontece definitivamente o casamento da Igreja com o Estado, quando é promulgado o édito de que a religião cristã a partir de então seria a religião oficial do Império Romano e que todos os seus súditos deveriam ser cristãos. O primeiro historiador da igreja Eusébio de Cesaréia[1] (270-339 d.C), registra a união do Poder secular com o Poder Religioso. Com isso, a Igreja deixou de ser perseguida, foram construídas várias catedrais e a religião cristã obrigatoriamente se tornou a religião oficial do Império Romano.
O Imperador César Galério Valério Maximiniano e o Imperador César Flávio Valério Constantino Augusto Pio Félix, Invicto, Pontífice Máximo e o Imperdor CÉSAR valério Liciniano Licínio Augusto Pio Félix, Invicto, Pontífice Máximo, "entre outras medidas que tomamos para utilidade e proveito do Estado, já anteriormente foi vontade nossa endereçar todas as coisas conforme as leis e ordem pública dos romanos e prover para que também os cristãos, [...] voltassem ao bom propósito.  [...] Em conseqüência, em troca dessa nossa indulgência, deverão rogar a seu deu por nossa salvação, pela do estado e por sua própria, com o fim de que todos os meios, o estado se mantenha são e possam eles viver tranqüilos em seus próprios lares". [...] Assim varridos os ímpios, Constantino e Licínio guardaram para si sós a parte correspondente do Império, segura e indiscutível. Estes, depois de eliminar do mundo antes de mais nada a inimizade contra Deus, conscientes dos bens que Deus lhes havia outorgado, demonstraram seu amor à virtude, seu amor a Deus, sua piedade e gratidão para com a Divindade por meio de sua legislação em favor dos cristãos. (EUSÉBIO de CESARÉIA: 1999, p.294,295,316).
No apogeu do Império Romano, especificamente o período que compreende de 311 a 380, denota o surgimento e a consolidação de uma Igreja Estatal que se irradia por todo Império. Dentro deste contexto, o cristianismo alcançou o status de religião oficial do Império Romano, e o paganismo deveria ser vencido, e com o uso da força estatal deveria ceder espaço para nova religião do Estado. Finalmente em 445, reconheceu-se a autoridade do bispo de Roma como chefe supremo da Igreja, quando o imperador Valentiniano III o considerou como chefe sobre os demais bispos e de todas as igrejas do mundo, sobre o pretexto de que: "somente será perseverada a paz de todas as igrejas no mundo inteiro, quando todo mundo reconhecer o seu chefe", ou seja, o bispo romano (BETTENSON, 1998, p.59).
Em 754 é elaborada e aprovada a doutrina do poder temporal da Igreja e do papado, em um acordo com o rei Pepino conhecido como "o breve". Pepino, rei dos francos governou de 714 a 758. Em 754 esse rei doou terras ao papa na hoje região central da Itália, que perfazia de Roma a Ravena. Com isso, formara os primeiros Estados Papais mantidos sob o poder da Igreja até 1870.
A Igreja, a partir destes fatos, passa a exercer um importante papel político na sociedade medieval, especialmente na Europa. Seu escopo perpassava ou extrapolava os púlpitos e catedrais.
No Império Romano, acreditava-se que não havia uma separação entre o poder temporal e o poder espiritual, pois para o imperador, a Igreja era um prolongamento do Estado e vice-versa, conceito que ficou conhecido como cesaropapismo.
 No século VIII a Igreja do Oriente (bizantina) foi atingida por um golpe, o iconoclasmo, ou seja, a luta para não mais haver a adoração a imagens. O Império Bizantino proibiu a adoração de imagens, o que acabou se tornando uma nova forma de heresia, já que se negava representar a humanidade de Cristo. Essa luta abalou os fundamentos do Império, pois o povo via no iconoclasmo uma manifestação de despotismo político, porém chegou ao fim em 842, quando foi restaurada a veneração de imagens. Poder-se-ia concluir que a Igreja conseguira derrubar o cesaropapismo, porém essa vitória da ortodoxia fortaleceu o inimigo, pois quase todo o clero secular se colocou do lado dos imperadores contra os monges. O cesaropapismo foi então fortalecido.
O fortalecimento da relação entre a Igreja e o Estado e outros acontecimentos políticos, como a coroação de Carlos Magno pelo Papa Leão III em 800, provocaram explosões de raiva e desentendimento em Constantinopla. Esses fatores, acrescidos de conflitos anteriores e da divergência e independência das partes ocidental e oriental da cristandade, levaram ao grande cisma, que ocorreu oficialmente em 1054[2]. Assim, o cisma rompeu o diálogo mantido durante séculos e o substituiu pela desconfiança e inimizade, o que levou a perdas de ambos os lados.
Após a queda do Império Romano do Ocidente, e anos depois no começo do reinado de Carlos Magno[3] (800 A.D.), a concepção Igreja-Estado tornou ainda mais forte com a concepção do “Sacro Império Romano-Germânico”.
Carlos Magno foi tido por seus contemporâneos como um novo Constantino escolhido por Deus para implantar e defender a Cristandade. Não apenas o imperador auxiliou a Reforma Católica no seu reino, como também impôs a fé aos saxões com força das armas em seu projeto de expansão do reino franco (AZZI, 1994, p.6).
É neste período que o conceito de cristandade tornou mais forte, pois Carlos Magno (768-814), tornou-se autêntico "Patronus Ecclesiae"[4] e, ou chefe de Estado e Chefe Protetor perpétuo da Igreja. Título esse dado a Constantino no século IV. Com Magno o cesaropapismo[5] foi então fortalecido e favoreceu ainda mais a relação entre Igreja e Estado.
Com efeito, com a coroação deste monarca em Roma,em 800, como representante do Sacro Império Romano, o ideal teocrático da respublica christiana afirmou-se não somente como concepção política, mas também como concepção do sentido da cultura, a qual, aliás, nas condições sociológicas da época, somente com o apoio da Igreja podia ser organizada, quer como forma ordenadora da vida, quer como sistema de valores e de saberes, quer ainda como organização e disciplina da actividade docente. Considerando-se priceps populi christiani e restaurador da tradição imperial romana, Carlos Magno pretendeu que a unidade política do seu vasto império, constituído por populações de diverso grau de civilização, se prolongasse na unificação da cultura mediante a unidade religiosa, pelo que promoveu a actividade docente da Igreja, impôs a todos os mosteiros a unidade de observância da regra beneditina e se considerou, como expressivamente declara numa epístola ao papa leão III, obrigado a defender a Igreja de Cristo, no exterior, com as armas, contra as incursões de pagãos e as devastações de infiéis, e no interior, fortalecendo-a pelo conhecimento da fé católica. O ceptro do monarca congregava, a um só tempo, os interesses da Igreja e os do Estado (CARVALHO, 1989, p. 386-7).    
Anos mais tarde, em 962 d.C., o rei germânico Otto I, foi coroado em Roma pelo papa João XIII, que o declarou como o grande Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Com isso, o mesmo ontos[6] consolidado com Carlos Magno, estendeu ainda mais pelo mundo, e tornou ainda mais válida a tese de que o poder do Estado ou do rei era concedido por Deus na pessoa do papa. Desta forma, a Igreja alcançou supremacia sobre o poder temporal ou civil.
A partir do século XI, a idéia de cristandade foi retomada na Alemanha, tanto pela dinastia dos Otões como dos Höhenstaufen, sob a designação de Sagrado Império Romano Germânico. Foi o jovem Otão III quem mais se empolgou com o sonho de uma sociedade cristã. Mas a morte prematura impediu-lhe a concretização dessa idéia (AZZI, 1994, p.6).
Ademais, foi nesta época que se reivindicou a concepção de poder constantinopolitano[7]. A Igreja resgatou o Documento de Constantino, que consubstanciava a unidade do poder civil e religioso na pessoa do Sumo-Pontífice Romano. Ao Supremo Pontífice foi entregue o poder e as indumentárias próprias de um imperador.
Visto que nosso poder imperial é terreno, decretamos que ele deve venerar e honrar a santíssima Igreja Romana e que a sagrada Sé do bem-aventurado Pedro deve ser gloriosamente exaltada sobre todo o nosso império e trono terreno. [...] entregamos nosso imperial palácio de Latrão, que é superior e excede a todos os palácios do mundo inteiro; além disso, o diadema, que é a coroa de nossa cabeça,a mitra e a estola, que usualmente envolve nosso imperial colo, [...] Por isso percebemos que nosso império e o poder de nosso governo devem ser transferido e removidos para regiões do oriente, e que uma cidade com o nosso nome deve ser construída no melhor local na província de bizâncio, sendo aí estabelecido o nosso império; pois não é direito que um imperador terreno tenha autoridade no lugar onde foi estabelecido pelo imperador celeste o governo dos sacerdotes e a cabeça da religião cristã. [...]. (BETTENSON, 1998, 3ª ed., p. 171-173).
Henrique IV, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, quando da morte de seu pai assumiu o poder, não aceitou a intromissão do Pontífice Romano, e assim, lança um manifesto em janeiro de 1076 contra o poder papal. Em seguida o papa Gregório VII, em fevereiro de 1076, publica um decreto depondo Henrique:
[...] retiro do rei Henrique, filho do imperador Henrique, o governo de todo o reino dos germanos e da Itália. Porque ele se levantou contra a tua Igreja com orgulho e arrogância. Libero todos os cristãos do vínculo do juramento que fizeram em favor dele. Proíbo a qualquer pessoa lhe sirva como rei, pois é justo que quem tende a diminuir a honra da tua Igreja perca até mesmo a honra que parece ter (BETTENSON, 1998, p.177).
Os papas eram os mandatários do poder secular, pois nomeava e retirava do poder quem lhes aprouvesse.
Após a deposição de Henrique IV, assumi Henrique V, que logo se submete ao poder papal, e estabelece uma política de subserviência com o poder central da Igreja. Seus decretos, passa a receber a chancela do representante imediato do papa em Colônia. No seu primeiro Edito, encontramos na subscrição final: "Eu, Frederico, arcebispo de Colônia e supremo chanceler, o ratifiquei" (Bettenson, 1998, p.188).
Segundo Perroy (1965), desde os inícios do século XII, a Igreja latina é uma monarquia, muito mais firme do que todos os poderes temporais que se repartem então pelo Ocidente e, por uma ousada transferência do mito imperial, e em favor do papa, agora revestido da tiara e do manto de púrpura, que os intelectuais da Igreja romana projetam renovar a dignidade suprema, diretora da comunidade cristã tanto no Temporal quanto no Espiritual.
Para Perroy, havia uma confusão entre o religioso e o leigo. Os senhores feudais e seus filhos eram cardeais da igreja. Nesta perspectiva diz:
[...] a função religiosa, os poderes e proveitos a ela inerentes [...] formam aos olhos dos contemporâneos como que uma tenência, cujo senhor é o patrono laico, que a entrega ao eclesiástico por um gesto simbólico de investidura e que, como um feudo após a morte do vassalo, lhe é devolvida quando a cadeira vaga (PERROY, 1965, p. 46).
As igrejas estavam em poder dos leigos, uma vez que pertenciam às famílias herdeiras dos fundadores do santuário, e estas se achavam no direito de explorá-las como um outro patrimônio qualquer. Além disso, os titulares de bispados e abadias eram nomeados pelos reis e por alguns príncipes que se apoderaram dos privilégios eclesiásticos. Por isso, havia uma mistura dessas instituições e dificuldade de defini-las separadamente. Segundo Ernest H. Kantorowicz (1998) o feudo e os reis dependiam da sacralização e bênção do papa. Diz mais:
Infinitas inter-relações entre a Igreja e o Estado, ativas em todos os séculos da Idade Média, produziram híbridos em ambos os campos. Empréstimos e trocas mútuas de insígnias, símbolos políticos, prerrogativas e honrarias sempre se realizaram entre os líderes espirituais e seculares da sociedade cristã. (KANTOROWICZ, 1998, p. 125).
O poder religioso, papal, ou da Igreja na pessoa do papa chegou ao ápice quando em outubro de 1198 na "Sicut universitatis conditor. Ep. I. 401, P.I. CCXIV. Mirbt, Nº 326". Neste decreto papal, o poder pontifício sobrepõe o poder temporal dos reis e príncipes. A partir daí o poder do Império Romano-Germânico fica sob governo papal. Diz o Decreto:
O criador do universo colocou duas grandes luminares no firmamento do céu; o luminar maior para governar o dia e o menor para governar a noite. Da mesma forma para o firmamento da Igreja Universal, da qual se fala como sendo o céu, Ele apontou duas grandes dignidades: a maior para exercer o governo sobre as almas(como se estas fossem os dias), a menor para exercer governo sobre os corpos (como se estes fossem as noites). Essas dignidades são: a autoridade pontifícia e o poder real. Além disso, a lua tira a sua luz do sol e é, na realidade inferior ao sol, tanto em tamanho e qualidade, como em posição e efeito. Da mesma forma, o poder real tira sua dignidade da autoridade pontifícia, e quanto mais estreitamente se aproxima da esfera dessa  autoridade,tanto menor é a luz de que ela mesma está adornada, e quanto mais dela se afasta, tanto mais aumenta seu próprio esplendor. [...] Reconhecemos, tal como é de nosso dever, que o direito e a autoridade de eleger um rei [...] que o direito e a autoridade de examinar a pessoa assim eleita pertence a nós, que os ungimos, consagramos e coroamos. (BETTENSON, 1998, p.188-189).  
Durante todo período da Idade Média, mesmo aparecendo aqui ou ali proposições quanto ao papel das esferas, secular e religiosa, houve sempre a subordinação do Poder Temporal o secular ao Poder Religioso.
Por outro lado, a semelhança entre as relações entre o rei e o Estado e o papa e a Igreja. Muitos pensadores consideravam o rei a partir de dois corpos; o corpo físico, individual (corpus verum) e o corpo coletivo (corpus fictum), que se dava pelo corpo do reino, como o parlamento para os ingleses. É interessante notar que, apesar de ser um indivíduo como outro qualquer, o rei possuía uma identidade que sobressaía ao seu corpo físico, tendo muitas vezes que negar a sua vontade particular e optar pela vontade que melhor coaduna com a do povo, e principalmente o sentimento religioso. Esta concepção remonta a idéia de rei da Grécia antiga de rei “filho dos deuses”, ou seja, o rei imbuído de uma autoridade mística, sobrenatural e espiritual.
Esta concepção posteriormente foi desenvolvida por Hobbes[1] ainda em um outro sentido mau interpretado pelos mandatários da sua época e absorvida por teólogos da Igreja Católica.
A ideologia absolutista de que o rei agia em nome de Deus e da religião, tornou a relação Igreja-Estado mais intrínseca quando o cardeal e orador sacro Jacques Benigne Boussuet (1627-1704)[2], formulou a doutrina do absolutismo do direito divino segundo o qual o rei era o representante de Deus responsável apenas perante Ele por seus atos de governo. Esta proposição estava baseada em uma interpretação exegética equivocada da Carta de São Paulo Apóstolo aos Romanos cap. 13. versículos. 1 a 7, como também na interpretação fora de contexto do corolário agostiniano expresso na magna obra  "A Cidade de Deus"[3].
É salutar observar a tese de Ramos (1984)[4], a qual é contrária a de Boussuet. Comentando sobre a idéia de Estado na doutrina ético-política de Santo Agostinho, especificamente partindo do referencial teórico "De Civitate Dei", é da opinião de que Agostinho não defende um governo plenamente teocrático, mas um Estado justo, relativamente autônomo como realidade temporal, pois a “Civitas Dei” de Agostinho é a Igreja na temporalidade em outra dimensão[5].  Ainda nesta perspectiva, defende:
Em conclusão, não haverá um Estado totalmente autônomo, isto é, neutro ou independente em relação ao fim da Cidade Celeste". Ele será, porém, relativamente autônomo e suficiente como realidade temporal, que tem por fim próprio a paz temporal, a qual ele pode e deve assegurar. Será esta o seu "bem comum" imediato. [...] O Estado terreno de Agostinho, concreto e singular,em qualquer tempo e lugar, com qualquer cultura que seja, em regime confessional ou laical, é, antes de tudo,uma parte daquela "Societas... mortalium"  e devedor moralmente da "humani generis caritas", por força de participação na "communis natura". [...] Ele aceitaria, ao invés, querer-me parecer, um Estado liberal, aconfessional, pluralista, como mal menor. [...] Ao cristão,por fim, revestido de autoridade ou simples cidadão de qualquer tipo de Estado, ao mesmo tempo membro da Cidade de Deus peregrina e desta concreta cidade terrestre, caberá, em particular, a obrigação de levar o próximo ao amor de Deus, pela benevolência, pela doutrina, pela disciplina, corrigindo os maus ou suportando-os, se não puder corrigi-los (RAMOS, 1984, p.325,353,354).
Portanto o Estado na mente de Agostinho não era teocrático em seu ontos, mas sempre teocêntrico em seu ethos[6].
Em Agostinho é feita a formulação teórica da transcendentalização do imanente, trazida pelo cristianismo. Esse autor parece projetar no mundo romano antigo pressupostos iluministas de um Estado fundamentado unicamente na razão, ao dizer que o Estado romano estava fundamentado no direito natural. É como se tivesse havido estados seculares na Antigüidade, teologizados no medievo para serem novamente secularizados na modernidade. Essa visão torna-se falsa quando constatamos os pressupostos teológicos daquilo que Arquillière chama de “direito natural”. O pensamento greco-romano predominava uma visão cíclica do tempo e o poder político estava sacralizado, por exemplo, na figura do Imperador romano, cultuado como um deus. (CATROGA: 2006, p.72).

Esta perspectiva agostiniana estava afirmando o pressuposto da Soberania de Deus exercida na temporalidade e na espacialidade, no sentido de que Deus constitui as autoridades e exige delas a manutenção da ordem, da justiça e da paz social. Portanto, o absolutismo proposto por Boussuet não encontra em Santo Agostinho uma base teórica consistente.
É na teoria das duas cidades de Agostinho, baseada na máxima de que se deve dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus que podemos vislumbrar uma primeira divisão entre imperium, ou poder civil, e ecclesia, ou poder religioso. Dessas premissas, decorre a mudança no paradigma da punição daqueles que infringem a ordem estatal. Antes vistos como merecedores de punição e aniquilamento, os faltosos serão agora também alvo de tentativas de recuperação e ressocialização. [...] A partir das cartas aqui explanadas, procuramos mostrar com que argumentos a nova matriz religiosa influenciou a visão sobre a natureza da pena e do castigo, influenciando nossa concepção atual de reintegração do apenado à sociedade. Essa concepção tem, no fundo, base teológica, pois preocupa-se com a salvação do condenado e baseia-se na natureza pecadora comum de
ofensores e ofendidos. (FLICKINGER: 2003, pp.73,75)

Entretanto é importante salientar que as características do  Estado moderno, sobretudo a separação do poder secular e poder religioso perpassou um longo processo histórico, cujas raízes se encontram na idade média.


1.2 O Papel desempenhado pelos Pré-Reformadores

O século XIV começara a despontar não somente para os Estados nacionais, como também para o sentimento de reforma da Igreja. Neste século destaca John Wycliffe (1328-1384) na Inglaterra e João Husss (1373-1415) na Boêmia (hoje República Tcheca e Eslováquia).
Wycliff[7], Hus e Wessel, fundadores de movimentos reformadores da Igreja nos séculos XIV e XV, seguiram o exemplo de São Francisco de Assis ao contrapor à Igreja com seu poder e seu casamento com o Estado. Propunha uma Igreja visível, espiritual e pobre, sem poderes nem estruturas separada totalmente do Estado[8]. Nesses mesmos séculos, difundiram-se correntes espirituais e místicas, que acentuavam a dimensão íntima e subjetiva na experiência com Deus ou que evidenciavam unilateralmente a onipotência da graça divina, chegando até a considerar inúteis as obras do cristão para sua salvação. Essas idéias terão lugar fundamental na doutrina luterana.
Na Inglaterra Wycliffe recebe o apoio de alguns políticos e religiosos que defendiam o nacionalismo inglês contrario aos domínios, francês e Romano, especialmente na questão secular pela Igreja.
Ao mesmo tempo em que defendia que a Igreja deveria retornar à primitiva pobreza dos tempos apostólicos, Wyclif também entendia que o poder da Igreja devia ser limitado à s questões espirituais, sendo o poder temporal exercido pelo Estado, representado pelo rei. Seu livro “De officio regis” defendia que o poder real também era originário de Deus, encontrava testemunho nas Escrituras Sagradas, quando Cristo aconselhou “dar a César o que é de César”. Era pecado, em sua opinião, opor-se ao poder do rei e todas as pessoas, inclusive o clero, deveriam pagar-lhe tributos. O rei deve aplicar seu poder com sabedoria e suas leis devem estar de acordo com as de Deus. Das leis de Deus se deriva a autoridade das leis reais, inclusive daquelas em que o rei atua contra o clero, porque se o clero negligencia seu ofício, o rei deve chama-lo a responder diante de si. Ou seja, o rei deve possuir um “controle evangélico” e quem serve à Igreja deve submeter-se à s leis do Estado. Os arcebispos ingleses deveriam receber sua autoridade do rei (não do papa).
Este livro teve grande influência na reforma da Igreja, não apenas na Inglaterra, que sob Henrique VIII passaria a ter a igreja subordinada ao Estado e o rei como chefe da Igreja, mas também na Boêmia e na Alemanha. Especialmente interessantes são também os ensinamentos que Wyclif endereça aos reis, para que protejam seus teólogos. Ele sustentava que, já que as leis do rei devem estar de acordo com as Escrituras, o conhecimento da Bíblia é necessário para fortalecer o exercício do poder real. O rei deveria cercar-se de teólogos para aconselha-lo na tarefa de proclamar as leis reais.
Ao mesmo tempo em que defendia que a Igreja deveria retornar à primitiva pobreza dos tempos apostólicos, Wycliffe também entendia que o poder da Igreja devia ser limitado à s questões espirituais, sendo o poder temporal exercido pelo Estado, representado pelo rei.
O livro de sua autoria “De officio Regis” defendia que o poder real também era originário de Deus, encontrava testemunho nas Escrituras Sagradas, quando Cristo aconselhou “dar a César o que é de César”, no entanto esse poder deveria ser separado do poder religioso, pois para ele a Igreja pertencia a uma instância espiritual especial, aonde representava o poder do evangelho em Cristo. Portanto um poder intrinsecamente espiritual. Era pecado, em sua opinião, opor-se ao poder do rei e todas as pessoas, inclusive o clero, deveriam pagar-lhe tributos. O rei deve aplicar seu poder com sabedoria e suas leis devem estar de acordo com as de Deus. Das leis de Deus se deriva a autoridade das leis reais, inclusive daquelas em que o rei atua contra o clero, porque se o clero negligencia seu ofício, o rei deve chama-lo a responder diante de si. Ou seja, o rei deve possuir um “controle evangélico”. ” e quem serve à Igreja deve submeter-se à s leis do Estado. Os arcebispos ingleses deveriam receber sua autoridade do rei (não do papa).
Ele sustentava que, já que as leis do rei devem estar de acordo com as Escrituras, o conhecimento da Bíblia é necessário para fortalecer o exercício do poder real. O rei deveria cercar-se de teólogos para aconselhá-lo na tarefa de proclamar as leis reais.
Tanto Wycliffe como Huss deixaram bem definidas suas posições em relação a questão Igreja e Estado.
As idéias do pré-reformador inglês Wycliffe expressas em sua obra "Sobre o Senhorio Civil" escrita em 1376 foram bem aceitas em seu país. A Inglaterra desde o século XII vivi um clima de reação nacionalista contra a interferência da Igreja Católica nos assuntos do Estado. Em sua eclesiologia, Wycliffe ensinava que a Igreja deve ser regida pela lei de Cristo que é a lei do amor e que se expressa através do serviço ao próximo. Por essa razão ela tem que ser pobre; não pode controlar a economia nem a política. O rei deveria interferir nos casos de enriquecimento abusivo do clero. O papa torna-se um herege quando aceita o domínio do mundo, pois transgride a lei de Cristo que é a lei da pobreza. O poder do papa é apenas espiritual e quando quer tornar-se príncipe na realidade transforma-se em anticristo. (VASQUES, 2005, p.20 Apud Tillich, 1988, p.189-193).
João Huss adepto das idéias de Wycliffe propagou-as na Boêmia, com o mesmo sentimento anti-pontificial, tornando claras essas idéias na sua obra "De Ecclesia", na qual não só propõe uma reforma na Igreja, mas a separação do poder secular e poder religioso.

1.3 A Influência do Humanismo no Calvinismo
Com o surgimento do humanismo[1], o ser humano tornou-se o eixo dessa nova filosofia, a qual defendia a liberdade de pensamento e o desenvolvimento do homem em todo seu potencial intelectual.
Foi no movimento humanista que surgiu a figura mais proeminente, Erasmo de Roterdã. A sua revolta contra as formas de vida da igreja não resultou tanto de dúvidas quanto à verdade da doutrina tradicional, nem de alguma hostilidade para com a organização da Igreja. Sentiu antes a necessidade de aplicar os seus conhecimentos na purificação da doutrina e na liberalização das instituições do cristianismo.
Como acadêmico Erasmo tentou libertar os métodos da Escolástica da rigidez e do formalismo das tradições medievais, mas não ficou satisfeito. Ele viu-se como o pregador da retidão. A sua convicção em toda a vida foi que o que era necessário para regenerar a Europa era uma aprendizagem sã, aplicada liberalmente e sem receios pela administração de assuntos públicos da Igreja e do Estado. Esta convicção confere unidade e consistência a uma vida que, de outra forma, pode parecer plena de contradições. Erasmo viu-se livre e distante de quaisquer obrigações comprometedoras; no entanto Erasmo foi, num sentido singularmente verdadeiro, o centro do movimento literário do seu tempo. Ele correspondeu com mais de quinhentos homens da maior importância no mundo da política e do pensamento, e o seu conselho em vários assuntos era procurado avidamente, se bem que nem sempre seguido.
Quando da sua estadia em Inglaterra, Erasmo iniciou o exame sistemático dos manuscritos do Novo Testamento, por forma a preparar uma nova edição e uma tradução para Latim. Esta edição foi publicada por Froben de Basiléia em 1516 e foi a base da maioria dos estudos científicos da Bíblia durante o período da Reforma.
Ele publicou uma edição crítica do Novo Testamento Grego em 1516 - Novum Instrumentum omne, diligenter ab Erasmo Rot. Recognitum et Emendatum. A edição incluiu uma tradução em Latim e anotações. Baseou-se também em manuscritos adicionais recentemente descobertos.
Erasmo declinou qualquer compromisso, argumentando que ao o fazer estaria a colocar em risco a sua posição como líder de um movimento por uma sabedoria pura, o que ele via como o objetivo de sua vida. Apenas como um académico independente poderia ele aspirar a influenciar a reforma da religião. A obra de Lutero foi a de providenciar uma nova base doutrinal para as tentativas até então dispersas de iniciar uma reforma. Ao reavivar os princípios quase esquecidos da teologia de Agostinho, Lutero tinha fornecido o necessário impulso para o interesse pessoal na religião, o que é a essência da Reforma Protestante. Erasmo, no entanto, temia qualquer mudança na doutrina e acreditava que não havia espaço dentro das fórmulas existentes para o tipo de reforma que ele apreciava tanto.
A sua obra mais conhecida, "Praise of Folly" "Elogio da Loucura", foi dedicada ao seu amigo Sir Thomas More. Em 1536 ele escreveu "De puritate ecclesiae christianae", na qual ele tentou reconciliar os diferentes partidos. Muito dos seus escritos apelam a uma grande audiência e lidam com assuntos do interesse humano geral; ele parece ter considerado estes como uma diversão, uma actividade de lazer. Os seus escritos mais sérios começaram cedo com a "Enchiridion Militis Christiani" , o "Manual (ou adaga) do cavalheiro cristão" (1503). Nesta breve obra, Erasmo esquematiza as perspectivas da vida cristã normal, uma tarefa que se lhe tornaria constante na sua vida.
O principal mal dos seus dias, diz ele, é o formalismo, um respeito por tradições sem consideração pelo verdadeiro ensinamento de Cristo. O remédio é que cada homem se pergunte a cada ponto "Qual a coisa essencial?", fazendo-o sem receio. Formas podem esconder ou sufocar o espírito. Na sua examinação dos perigos do formalismo, Erasmo discute a vida monástica, a adoração de santos, a guerra, o espírito de classe e as fraquezas da "sociedade", mas o "Enchiridion" é mais um sermão do que uma sátira.
O seu texto acompanhante, o "Institutio Principis Christiani" (Basiléia, 1516), foi escrito como conselho ao jovem Rei Carlos de Espanha, mais tarde Carlos V, Sacro-Imperador Romano. Erasmo aplica os princípios gerais de honra e de sinceridade à s especiais funções do Príncipe, quem ele apresenta como um servidor do povo.
Erasmo, além de questionar a mitologia, em sua magna obra, "O Elogio da Loucura", propaga uma busca para os Clássicos e critica ironicamente a Igreja Católica por deter o poder intelectual e político. Em parte, Erasmo foi influenciado pelos reformadores e os reformadores por ele.
CAPITULO II
A RELAÇÃO IGREJA ESTADO NA REFORMA

2. A Relação Igreja/Estado na Reforma Religiosa
Martinho Lutero[2] o primeiro reformador, o qual não apenas rompeu com a dogmática da doutrina católica, mas com a forma de pensar e de dirimir sobre diversos assuntos da sociedade. Influenciada pelo movimento humanista de valorização do livre pensamento, aprofundou a dinâmica dos conhecimentos teológicos, dentre eles, a fundamentação política do Estado e o papel da Igreja, bem como seu relacionamento com o poder civil. As Noventa e Cinco Teses, de 31 de outubro de 1517, abordaram uma ampla variação de práticas corruptas da igreja, e a usurpação do poder papal, embora a ênfase central fosse a salvação pela graça de Deus.
Lutero reagia de forma drástica às pretensões de  interferência da Cúria Romana, não somente na vida interna da Igreja da Alemanha, mas na vida religiosa do povo e do poder temporal dos príncipes. Desta forma adquiriu apoio dos príncipes contrários à política eclesiástica da Santa Sé e, com isso, a reforma assumiu um cunho nacionalista.
Falando sobre o poder espiritual (Igreja) e o poder civil (Estado), bem como do  relacionamento dos dois poderes Lutero expõe:
À autoridade espiritual, representante do regime espiritual de Deus, cabe o poder da palavra de Deus. Sua incumbência é pregar esta palavra. [...] A Autoridade secular, representante do regime secular de Deus, cabe o poder político, simbolizado pela espada. Sua incumbência é possibilitar e garantir o convívio das pessoas na sociedade bem como seu bem-estar terreno. Onde tal poder é exercido, há Estado. [...] Cabe a autoridade espiritual lembrar os governantes de suas incumbências. [...] Nenhum dos dois deve intrometer indevidamente. As autoridades, espiritual e secular estão unidas no serviço fiel que ambas devem à autoridade divina comum (LUTERO, 1996, p.118).
A reforma foi um grande movimento dialético na tentativa de emancipação do pensamento, que, com efeito, rompe com a hegemonia e propriedade exclusiva da Igreja na pessoa do Papa. A Igreja na pessoa do papa era uma verdadeira potência econômica cuja situação social constituía o sistema feudal. Contrapondo a essa ideologia, a Reforma enaltece o homem, por ambas considerarem o homem um ser dinâmico capaz de interpretar o mundo. No caso especificamente da Reforma a interpretação individual das Escrituras. Tem acima de tudo, como ponto em comum, a autonomia do espírito humano, que na Reforma é representado pela doutrina fundamental da experiência interior e do livre exame, como norma suprema de vida religiosa e moral. Foi nesta perspectiva que Lutero rompeu com Roma. Ele não aceitava mais ficar calado ante as pretensões de Roma, e sempre havia pregado contra esse acrisolamento e alijamento do pensamento. Essa sua inquietação estava influenciada pelo humanismo renascentista e pela formação agostiniana concernente ao estudo e desenvolvimento exegético das Escrituras. Ele não aceitava o princípio dominante no cristianismo de Roma "quando Roma fala todo o mundo cala".
Politicamente especialmente na Alemanha, a Igreja estava enfraquecida.  Os conflitos políticos entre autoridades da Igreja Romana e governantes das monarquias européias, cada vez se acirravam. Tais governantes desejavam para si o poder espiritual e ideológico da Igreja e do Papa muitas vezes para assegurar o direito divino dos reis. Por outro lado, sentiam-se desconfortáveis com a tributação papal que, apesar de defender a simplicidade, era a instituição mais rica do mundo.
Sobretudo na Alemanha, duas classes sofriam com a crise econômica surgida após a descoberta da América: os cavaleiros e os camponeses. Os primeiros tinham perdido seu antigo poder e procuravam o meio para recuperá-lo: assim, a posse dos bens da Igreja poderia oferecer-lhes uma cômoda e fácil oportunidade. Entre os camponeses, ainda na condição de escravos, há muito estava incubado o fermento revolucionário, que já havia explodido com violência em revoltas que, periodicamente, sacudiam a Alemanha, desde o final do século XV. Eles esperavam a hora da própria libertação.
Todo esse conjunto de fatores religiosos, culturais, políticos e sociais constituía um imenso material explosivo. Bastava uma centelha para fazê-lo estourar. Lutero foi o estopim, com sua personalidade forte e inspirada. A data exata do começo desse processo foi estabelecida a partir das 95 teses de Lutero, publicadas em novembro de 1517 (e não fixadas no dia 31 de outubro nas portas da Igreja de Wittenberg, como tradicionalmente se pensava).
A reforma como movimento dialético tem em comum a renascença a pretensão anti-histórica de romper com a Igreja Católica e com o pensamento predominante do escolastissismo tomístico.  Lutero lutou contra as práticas ascéticas e monásticas, e, sobretudo contra o poder temporal da Igreja. A Reforma foi  fecunda no campo teórico do pensamento, e criou uma consciência especulativa e progressista estabelecendo as bases para o mundo moderno. Dentro desta perspectiva, acha-se a característica específica do pensamento clássico moderno “a expansão dos indivíduos e da sociedade”. Neste sentido, Max Weber (1910)[1] denota certa emancipação do tradicionalismo e, por conseguinte a eliminação embora não completa do controle da Igreja sobre a vida cotidiana. Neste sentido, o indivíduo passa a existir numa expressão mais patente. Assim, tanto o indivíduo como o Estado ganham autonomia.
João Calvino[2] (1509-1564), em questões éticas e políticas consideravam aqueles que exerciam a autoridade civil como quem trabalhavam como operários de Deus, seguindo a lógica luterana sobre a vocação. Embora sendo as autoridades civis operárias de Deus, elas não têm o papel eclesiástico e nem as autoridades eclesiásticas tem a autoridade civil. Portanto, a esfera política ou o poder civil e religioso não se confundem[3]. Desta forma Calvino propõe a distinção entre a Igreja e o Estado, sendo também precursor dos limites entre a ética da vida pública e a ética da vida privada.
Em seu tratado denominado “As Institutas da Religião Cristã dedicado ao Rei Francisco I, apresenta uma perspectiva do que seria uma dominação política legítima. A partir deste texto, se procura destacar que tipo de dominação é ali postulado. De que forma Calvino entendia que o príncipe deveria reinar e dominar sobre o povo? Com que regras? Com que motivação?
No pensamento de Calvino, se distinguem dois âmbitos: O espiritual e o temporal, ou em outros termos: o espiritual e o político, ele também chama o âmbito político de civil. Estritamente, o termo político relaciona-se com a arte de governar; assim, falar-se-á aqui do domínio espiritual e do domínio político, todavia, levando-se em conta que o primeiro deles também implica em política. Após tratar nas Institutas acerca da liberdade cristã, Calvino termina o assunto fazendo a distinção destes poderes.
Enquanto Calvino descreve o reino espiritual visando ao homem interior e à vida eterna, agora, ao tratar do reino político, ou temporal, descreve-o como aquele que visa estabelecer uma justiça civil e o aperfeiçoamento dos costumes exteriores (IV.XVI.1). Sendo assim, entende que estes dois reinos são distintos. Embora estabeleça essa distinção, insiste na responsabilidade do homem cristão sujeitar-se ao reino temporal, já que “é indiferente a condição a que pertencemos entre os homens, ou qual a nação a cujas leis devemos obediência, visto que o reino de Cristo não se localiza nestas coisas” (IV.XVI.2).
Contrariando os amantes de utopias de seus dias que se opunham ao governo civil, Calvino lembra-lhes que o reino de Cristo não repudia o reino civil. Todavia, qual finalidade desse reino temporal? O quê visa? Calvino responde em termos éticos
o objetivo do reino temporal é fazer que possamos adaptar-nos à companhia dos homens durante o tempo que nos cabe viver entre eles, estabelecer os nossos costumes em termos de uma justiça civil, viver em harmonia uns com os outros, e promover a paz e a tranqüilidade comum (IV.XVI.3).
Desta forma ele reconhece a necessidade de leis políticas que contribuam para a relação harmônica e pacífica entre os homens. A forma de dominação postulada aqui considera a necessidade de controle sobre os homens. A razão apresentada é de natureza teológica, já que o homem é considerado como tendo uma natureza corrompida pelo pecado, e conseqüentemente inclinada para o mal. Faz-se, assim, necessário um “esforço enorme para, à força, contê-los e impedi-los de praticar o mal” (IV.XVI).
Em conclusão, pode se dizer que a Reforma Protestante do século XVI tornou-se base para as democracias modernas.
Estas idéias, que formam a base das liberdades modernas, encontram sempre eloqüentes defensores no protestantismo. O ministro Jurieu as defendeu contra Bossuet, em uma discussão bem conhecida, e Locke as expôs debaixo de uma forma científica. Do protestantismo é Montesquieu, Voltaire e os escritores políticos do século XVIII as tiraram, e delas é que saiu a Revolução Francesa. Mas, muito tempo antes, elas tinham sido aplicadas, com sucesso constante nos Estados protestantes, primeiro na Holanda, depois na Inglaterra e, principalmente na América (LAVELEYE, 1875, p.30).

 CAPITULO III
Características do Estado Moderno no Calvinismo


3.1. Um Estado Contratual e Liberal

.......  [...]

BIBLIOGRAFIA

BIÉLER, André.  O Pensamento Econômico e Social de Calvino, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990.

CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1988.

CAVALCANTI, Robinson. Cristianismo & política: teoria bíblica e prática histórica. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2002.


CLOUSE, Robert G. et al. Dois reinos: a igreja e a cultura interagindo ao longo dos séculos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.

CULLMAN, Oscar. Cristo e política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968. Original em inglês: The State in the New Testament (1956).


DOWLEY, Tim (org.). História do cristianismo: guia ilustrado. Venda Nova, Portugal: Bertrand Editora, 1995.

DOWLEY, Tim (ed.). Atlas Vida Nova da Bíblia e da história do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1997.

GARDNER, E.C. A ordem política. Em: Fé bíblica e ética social. São Paulo: ASTE, 1965, p. 364-400.


GONZÁLEZ, Justo L. Uma história ilustrada do cristianismo. 10 vols. São Paulo: Vida Nova, 1980-1995.

GONZÁLEZ, Justo L. Uma história do pensamento cristão. 3 vols. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.

GOYARD-FABRE, Simone. Os princípios filosóficos do direito político moderno. Tradução: Irene A. Paternot. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

IRWIN, Dale T.; SUNQUIST, Scott W. História do movimento cristão mundial. Vol. I: Do cristianismo primitivo a 1453. São Paulo: Paulus, 2004.

LINDER, R.D. Igreja e estado. Em: ELWELL, Walter A. (Ed.). Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1990, Vol. II, p. 297-303.

LLOYD-JONES, D.M. A igreja e o estado: funções diferentes. São Paulo: PES.

MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização. 8º edição. Rio de Janeiro: LTC, s.d.


MATOS, Alderi Souza de. A caminhada cristã na história: a Bíblia, a igreja e a sociedade ontem e hoje. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2005.

MEETER, H. Henry. La iglesia y el estado. Grand Rapids: TELL, s.d. Título original: The basic ideas of Calvinism.


NICHOLS, Robert Hastings. História da igreja cristã. 11ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2000.

NOLL, Mark A. Momentos decisivos na história do cristianismo. Trad. Alderi S. Matos. São Paulo: Cultura Cristã, 2000.

OLSON, Robert. História da teologia cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São Paulo: Vida, 2001.

RIBEIRO, Daniel. Igreja e estado na Idade Média: relações de poder. Belo Horizonte: Editora Lê, 1995.

ROUANET, Sergio Paulo. As razões do iluminismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1987

TREVOR-ROPER, H. R. Religião, Reforma e Transformação Social. Lisboa: Editorial Presença/ Martins Fontes, 1972.

WALKER, Williston. História da igreja cristã. São Paulo: ASTE, 1967.

WALTON, Robert C. História da igreja em quadros. São Paulo: Vida, 2000.

WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Martin Claret. 4ª ed, 2001.




[1] Emil Maximillian Weber, mais conhecido como Max Weber, (Erfurt, Alemanha, 21 de Abril de 1864 — Munique, 14 de Junho de 1920) foi um intelectual alemão e um dos fundadores da Sociologia. Suas principais obras são: Weber, Max - Sociologia. (capítulo 3, A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais). São Paulo, 1979. Ed. Atlas; Weber, Max – Ciência e política duas vocações. São Paulo, Ed. Martin Claret, 2003; Weber, Max – A ética protestante e o espírito capitalista. São Paulo, Ed. Martin Claret, 2003.
[2]Calvino nasceu em Lyon na França, mas consolida a reforma na Suíça. Construindo sobre os alicerces lançados por Lutero, Calvino não só sistematizou como também deu estrutura eclesiástica e política ao pensamento da reforma. A partir de Calvino, o protestantismo causou um impacto internacional, não somente no aspecto doutrinário, mas, sobretudo nos sistemas de governo e na vida das pessoas. Sobre calvinismo, política e sociedade pode ser pesquisadas as obras: BIÉLER, André. O Pensamento Social e Econômico de Calvino. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1990; do mesmo autor: A Força Oculta dos Protestantes. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999; GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1994 BAINTON, Roland H.. Women of the Reformation: In France and England. Mnneapolis: Augsburg Publishing House, 1973 e TREVOR-ROPER. Religião, Reforma e Transformação Social. Lisboa: Editorial Presença/Martins Fontes, 1981.
[3]Sobre a separação ou o papel distinto da Igreja e do Estado na perspectiva calvinista, encontramos várias obras de estudiosos do calvinismo e também a comprovação do substrato do pensamento de João Calvino quanto a ética e a política. Dentre os autores, citamos: SKINNER, Quentin. As Fundações do Pensamento Político Moderno, 1996; BONHOEFFER, Dietrich. Resistência e Submissão, 1980; WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, 1994 e BIÉLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino,1990. 


[1]O humanismo foi um movimento de valorização do homem, consolidado pelo teólogo e filósofo Erasmo de Roterdã (1469-1536), que passou para a história por se opor ao domínio da Igreja sobre o pensamento, a cultura e a ciência. Ele era um intelectual respeitado e prestigiado de seu tempo e sempre esteve ligado aos círculos do poder na Europa. Sobre o humanismo e suas fases, ver: CASSIRER, Ernst. A Filosofia do Iluminismo. São Paulo: Martins Fontes, 1998; TREVOR-ROPER. Religião, Reforma e Transformação Social. Lisboa: Editorial Presença/Martins Fontes, 1981.
[2]Martinho Lutero nasceu em 1483 em Eisleben, norte da Alemanha. Seus pais queriam que fosse advogado, mas ele procurou formação num mosteiro em Erfurt. Aos 25 anos, foi para a Universidade de Wittenberg, onde se formou em estudos bíblicos. Numa viagem a Roma, ficou escandalizado com os costumes do clero. Ao voltar, iniciou carreira de professor e pregador, sob proteção do príncipe Frederico, o sábio. Em 1517, Lutero publicou suas 95 teses teológicas. Quatro anos depois foi excomungado pelo papa LeãoX e reafirmou suas convicções perante os governantes alemães, na dieta (reunião particular) de Worms, de onde saiu proscrito. Após um ano, retornou a Wittenberg e continuou a reforma até sua morte em 1546.


[1] Thomas Hobbes (Malmesbury, 5 de abril de 1588 – Hardwick Hall, 4 de dezembro de 1679) foi um matemático, teórico político, e filósofo inglês, autor de Leviatã (1651) e Do cidadão (1651). Na obra Leviatã, explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de governos e sociedades. No estado natural, enquanto que alguns homens possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, nenhum se ergue tão acima dos demais por forma a estar além do medo de que outro homem lhe possa fazer mal. Por isso, cada um de nós tem direito a tudo, e uma vez que todas as coisas são escassas, existe uma constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). No entanto, os homens têm um desejo, que é também em interesse próprio, de acabar com a guerra, e por isso formam sociedades entrando num contrato social.
[2] Jacques-Benigne Bossuet (Dijon, 27 de Setembro de 1627 — Paris, 12 de Abril de 1704) foi um bispo e teólogo francês. Bossuet foi um dos primeiros a defender a teoria do absolutismo político; ele criou o argumento que governo era divino e que os reis recebiam seus poder de Deus. São duas obras para entender o pensamento político de Bossuet: La Politique tirée de l'Écriture sainte (póstumo) (1709), Traité de la connaissance de Dieu et de soi-même (póstumo) (1741).
[3]A obra magna de Santo Agostinho (354-430) escrita entre 413-416, para tratar de uma reflexão política-teológica-filosófica sobre as relações entre a Igreja e o Estado, que tem como pano de fundo a proposição de um Estado terreno justo.
[4]Francisco Manfredo Tomás Ramos, apresentou a tese de doutorado, "A Idéia de Estado na Doutrina Ético-Política de Santo Agostinho", na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e foi aprovada com mais alta distinção. (H. C. de Lima Vaz, S.J. in: prefácio da tese-livro, p.16).
[5]Para uma pesquisa sobre o tema em Santo Agostinho, ver: AGOSTINHO, Santo. [AUGUSTINUS]. “Epistolae.” In: Sant’Agostino: tutte l’opere. Roma: Città Nuova Editrice. Disponível em:< http://www.augustinus.it/latino/lettere/index2.htm>. Acesso em: 15 out. 2007. In: Sant’Agostino: tutte l’opere. Roma: Città Nuova Editrice. Disponível em:. Acesso em: 05 jun. 2007. Confissões. Traduzido do latim por Arnaldo do Espírito Santo, João Beato e Maria Cristina de Castro-Maia de Sousa Pimentel. 2. ed. Edição bilíngüe. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2004. (EstudosGerais: Série Universitária Clássicos de Filosofia ). “Letters 152, 153, 154 and 155.” In: ATKINS, E. M.; DODARO, R. J. (Ed.) Augustine: Political Writings. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. pp. 70-89 (Cambridge Texts in the History of Political Thought). MARROU, H-I. Saint Augustin et l’augustinisme. Paris: Éditions Du Seuil, 1955. MILBANK, J. Teologia e teoria social: para além da razão secular. São Paulo: Loyola, 1995. WEITHMAN, P. “Augustine's Political Philosophy.” In: STUMP, E.; KRETZMAN, N. The Cambridge Companion to Augustine. Cambridge: Cambridge University Press, 2001, pp. 234-252 (Cambridge Companions to Philosophy).

[6]Ethos: entende-se por ethos os valores constituídos de princípios ou regras que tem em seu substrato a prática desses valores.
[7] John Wyclif (ou Wycliffe) foi professor da Universidade de Oxford, teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas religiosas que sacudiram a Europa nos séculos XV e XVI (ver: Reforma Protestante). Trabalhou na primeira tradução da Bíblia para o idioma inglês, que ficou conhecida como a Bíblia de Wyclif. Wyclif então se retirou para sua casa em Lutterworth, onde reuniu sábios que o auxiliaram na tarefa de traduzir a Bíblia do latim para o inglês. Enquanto assistia à missa em Lutterworth, no dia 28 de dezembro de 1384, foi acometido por um ataque de apoplexia, falecendo 3 dias depois, no último dia do ano.A influência dos escritos de Wyclif foi muito grande em outros movimentos reformistas, em particular sobre o da Boêmia, liderado por Jan Huss e Jerônimo de Praga. Para frear tais movimentos, a Igreja convocou o Concílio de Constança (1414 – 1418). Um decreto deste Concílio (expedido em 4 de maio de 1415) declarou Wyclif como herético, recomendou que todos os seus escritos fossem queimados e ordenou que seus restos mortais fossem exumados e queimados, o que foi cumprido 12 anos mais tarde pelo Papa Martinho V. Suas cinzas foram jogadas no rio Swift, que banha Lutterworth.
[8] Para uma pesquisa mais abrangente sobre o tema ver: TREVOR-ROPER, H. R. Religião, Reforma e Transformação Social. Lisboa: Editorial Presença/ Martins Fontes, 1972.


[1] Eusébio de Cesareia (local desconhecido, cerca de 275 - Cesareia (provavelmente), 30 de Maio de 339) (chamado também de Eusebius Pamphili, "Eusébio amigo de Pânfilo") foi bispo de Cesareia e é referido como o pai da história da Igreja porque nos seus escritos estão os primeiros relatos quanto à história do Cristianismo primitivo. O seu nome está ligado a uma crença curiosa sobre uma suposta correspondência entre o rei de Edessa, Abgaro e Jesus Cristo. Eusébio teria encontrado as cartas e, inclusive, as copiado para a sua Historia Ecclesiae. Na sua "História da Igreja" ou "História Eclesiástica"), Eusébio tentou, de acordo com as suas próprias palavras (I, i.1), apresentar a história da Igreja desde os apóstolos (história essa referida nos "Actos dos Apóstolos") até ao seu próprio tempo, tendo em conta os seguintes aspectos: (1) a sucessão dos bispos nas Sés principais; (2) a história dos Doutores da Igreja; (3) a história das heresias; (4) a história dos judeus;  (5) as relações com os pagãos; (6) o martirológio.
[2] O cisma ou separação do cristianismo oriental e ocidental, refere-se a não aceitação dos bispos e patriarcas do oriente, especialmente de Constantinopla e da Grécia em não aceitar a autoridade do papa romano nem as relações deste com o poder político secular.
[3]Carlos Magno (742-814), era filho do rei Pepino, e subiu ao trono no dia 25 de dezembro do ano 800 d.C, em Roma. Foi coroado pelo papa Leão III. Seu primeiro ato foi confirmar as terras doadas pelo seu pai à Igreja, e assim, a Igreja tornou-se proprietária de vastos territórios. Esta união do poder civil e religioso com o rei Carlos Magno e Leão III tornou-se mais sólido.
[4]Patronus Ecclsiae significa que o poder imperial seria o guardião da Igreja em seus territórios, e sob esta proteção, a Igreja poderia ser defendida com armas.
[5] O termo indica um sistema de relações entre Estado e Igreja em que o chefe do Estado, julgando caber-lhe a competência de regular a doutrina, a disciplina e a organização da Societas fidelium, exerce poderes tradicionalmente reservados à suprema autoridade religiosa, unificando na própria pessoa as funções de imperador e de pontifex. Decorre neste sistema a subordinação da Igreja ao Estado.
[6] Ontos: entende-se semanticamente esta palavra por "o ser" ou a identidade.
[7]Refere-se aos Decretos de Constantino, especificamente o Decreto que transfere a autoridade da Igreja a ele próprio.