DA LITURGIA SINAGOGAL PARA LITURGIA CRISTÃ: TRADIÇÃO E
RUPTURA
Uma ruptura
completa entre a Igreja e a Sinagoga está em contradição com a Sagrada
Escritura e com a história da Igreja Cristã.
No
inicio da caminhada da Igreja chamada de “Igreja Primitiva” houve uma relação
original entre ela e a Sinagoga, e com o tempo houve um distanciamento. Daí
defender os dois aspectos na relação entre Igreja e Sinagoga é abordar a
herança judaica nos aspectos litúrgicos que constituiu a liturgia da Igreja.
Vive-se hoje, ainda, uma
certa ignorância em relação ao povo do Antigo Testamento. Há muitos que crêem
que o judaísmo desapareceu com a queda de Jerusalém no ano 70 d.C. , mas
sobretudo existe o desconhecimento quanto à liturgia, da qual a cristã herdou
muitos elementos e modelos.
Por outro lado, o
cristianismo atual tem deixado o assunto “liturgia em segundo plano, cultivando
desta maneira um dualismo segregador entre as tradições antigas e modernas, entre
o conceito cristão de Igreja e Sinagoga e consequentemente uma separação entre
o Antigo e Novo Testamentos, com isso uma ideia dispensacionalista de Igreja.
Dai se desenvolveu a idéia de que a liturgia da Igreja Cristã foi apenas
produto dos primeiros cristãos, desenvolvendo a idéia de que as tradições
judaicas são negativas para a Igraja. Estas ideias em minha opinião,
desvalorizou não somente as tradições litúrgicas da sinagoga como também todo o
Antigo Testamento. Por detrás disso, existe o pressuposto de uma perspectiva
limitada das Sagradas Escrituras baseada em dispensações defendidas por aqueles
que querem dividir as Escrituras de forma histórica linear sem dar muita importância
para a ideia de “aliança” e para o Novo Testamento, bem como para a historicidade da Igreja.
Jesus cumpriu as Sagradas
Escrituras como Ele mesmo diz. Ele fez uso dos textos e da liturgia judaica. O
mesmo fizeram Maria, os apóstolos, e a Igreja primitiva por muitos decênios.
Pode-se correr o risco de
achar que atualmente o rito e a influência hebraica tenha desaparecido, não
levando em conta o fato de que ele é hoje uma experiência espiritual para
milhões de judeus religiosos contemporâneos. Ao contrário, lembrar-se de que
esta fé continua as ser vivida ainda hoje, pode ajudar a Igreja a não se
esquecer de que recebeu a revelação do A.T. por intermédio daquele povo, com o
qual, Deus, em sua inefável misericórdia, se dignou fazer a antiga Aliança, e
que, como escreve o apóstolo Paulo, “os dons e a vocação de Deus são sem
arrependimento” (Rm 11,29).
Conhecer a liturgia judaica
não é só aumentar a própria bagagem histórica e cultural, mas sobretudo
penetrar na alma em oração do povo judeu, que através do séculos eleva sua voz
e louvor e de invocação a um Deus que é o mesmo Deus de Jesus e dos cristãos, o
único Deus de todos os homens e de todas as religiões.
É com certeza nesse nível que a liturgia judaica e cristã
encontram, como “irmãs”, os seus maiores pontos de contato e consonância: isto
porque tanto uma como outra anunciam o Reino de Deus, proclamam e santificam o
Seu nome, louvam-no, agradecem e invocam seu advento. A santificação do Nome, a
qedushat hashem, é o coração tanto da liturgia hebraica como cristã, o
verdadeiro ponto de encontro e de confronte dos dois povos da aliança.