segunda-feira, 8 de março de 2010

DOUTRINA REFORMADA


1. PORQUE SURGIRAM OS CINCO PONTOS COMO TEOLOGIA REFORMADA

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Um teólogo holandês chamado Jacob Hermann, que viveu de 1560 a 1609, melhor conhecido pela forma latinizada de seu último nome, Arminius, ainda que educado na tradição reformada, se inclinou para as doutrinas humanistas de Erasmo, porque tinha sérias dívidas a respeito da graça soberana de Deus; como era ensinada pelos Reformadores. Seus discípulos, chamados arminianos, disseminaram o ensino de seu mestre e, alguns anos depois de sua morte, formularam sua doutrina em cinco pontos principais, conhecidos como os cinco pontos do arminianismo.
Em 1619, um grupo de teólogos publicou um documento com cinco capítulos que fora escrito em resposta a cinco pontos de protesto de discípulos de um professor de seminário na Holanda chamado Tiago Armínio (1560–1609). Um Sínodo nacional foi chamado para responder a Representação (protesto). Oitenta e quatro membros e 18 comissários seculares vieram, não só da Holanda, mas da Alemanha, Bavária, Suíça e Inglaterra. Eles se reuniram por sete meses e formularam o que ficou conhecido como os Cinco Pontos do Calvinismo, em homenagem ao reformador João Calvino (1509–1564), o qual expusera essas doutrinas no século anterior. O sínodo restabeleceu todas as doutrinas que haviam sido sustentadas por praticamente todos os reformadores e pelo Pai da Igreja Agostinho de Hipona (354–430 D.C.), mil e duzentos anos antes.
Os arminianos resolveram fazer uma representação ao Parlamento Holandês. Era um protesto contra a Fé Reformada, cuidadosamente escrito. Em 1618, um Sínodo nacional da Igreja reuniu-se em Dort para examinar os ensinos de Arminius à luz das Escrituras. Depois de 154 calorosas sessões, que consumiram sete meses, os cinco pontos do arminianismo foram considerados contrários ao ensino das Escrituras e declarados heréticos. Ao mesmo tempo, os teólogos reafirmaram a posição sustentada pelos Reformadores Protestantes como consistentes com as Escrituras e formularam aquilo que hoje é conhecido como “Os Cinco Pontos do Calvinisno” (em honra ao grande teólogo francês, João Calvino).
Ao longo dos anos essa resposta do Sínodo de Dort às heresias arminianas tem sido apresentada na forma de um acróstico formado pela palavra TULIP, sendo as iniciais tradicionalmente da língua inglesa.
Total Depravit = Depravação Total-Total depravação.
Unconditional Election= Eleição Incondicional-Uma escolha incondicional.
Limited Atonement = Expiação Limitada-Limitada expiação.
Irresistible Grace = Graça Irresistível-Irresistível chamado.
Perseverance Of Saints = Perseverança dos Santos-Perseverança dos santos.
Estes pontos por muito tempo foram chamados de : “As Cinco Afirmações do Evangelho”.
Os estudiosos daquele sínodo produziram um material profundamente bíblico e, ao mesmo tempo, compreensível, fácil de memorizar e explicar. O evangelho foi resumido em cinco declarações:
1) Deus criou tudo perfeito, mas o homem decaiu de seu estado de santidade e comunhão original.
2) Deus escolheu, dentre a massa de pecadores, alguns para serem salvos.
3) Cristo morreu pelos eleitos.
4) Os eleitos são chamados pelo Espírito Santo, através da proclamação do evangelho.
5) Os eleitos serão glorificados.
Segundo Grider, Arminius foi o expositor mais capacitado daquilo que vários outros já estavam ensinando: que a predestinação divina dos indivíduos baseia-se na Sua presciência do modo pelo qual eles, espontaneamente, aceitarão ou rejeitarão Cristo, ou seja, há uma participação do homem na salvação. Para Arminius, Deus elege e o homem aceita ou não a eleição. Ele estava dizendo que a Eleição é condicional.
Os ensinos de Arminius foram assimilados por Carlos Wesley, pelos metodistas, pelas igrejas da Santidade (holiness), pelo Exército de Salvação, pelos nazarenos, pelos batistas, pelos pentecostais, pelos assembleianos e os neopentecostais de hoje.
Arminius reconhecia as Escrituras como autoridade suprema para a formulação das doutrinas e ensinava que a justificação é somente pela graça, não havendo nada de meritório na fé que a ocasione. Entretanto, uma das suas doutrinas distintivas é a respeito da eleição ou predestinação, afirmando que a predestinação da parte de Deus é salvar aqueles que se arrependem e crêem (predestinação condicional), como teria sido ensinado pelos teólogos católicos após Tomás de Aquino. De certa maneira não divergia totalmente, mas a questão era a Eleição Condicional versus Eleição Incondicional como ensinara Agostinho e Calvino.
Muitas afirmativas creditadas aos arminianos são opiniões erroneamente atribuídas ou mal compreendidas. Por exemplo, o arminianismo não é teologicamente liberal, nem tampouco é sincretista. É evangélico, mas com importantes doutrinas diferentes do calvinismo, pois Arminius nunca afirmou que o homem não precisasse da graça de Deus para salvação.
É de fundamental importância fazer uma conexão da teologia arminiana com a filosofia, especialmente anos antes do Sínodo de Dort, para melhor conhecer o pano de fundo da tese dos seguidores posteriores a Arminius.
Packer (1999) quando discorre sobre os cincos pontos, afirma que o entendimento da fórmula “Remonstrance”, parte do pressuposto da compreensão do homem. Para Arminuis e seus seguidores, a liberdade humana é o ponto de partida da responsabilidade, inclusive para escolher o que fazer com sua alma. Packer (1999, p.40) explica esta compreensão dos argumentos remonstrantes de seguinte maneira:

A teologia contida nesta “Remonstrance” (ou Representação) “originou-se de dois princípios filosóficos: primeiro, que a soberania de Deus é incompatível com a liberdade humana, e, portanto, também com a responsabilidade humana; em segundo lugar, que habilidade é algo que limita a obrigação... Com bases nesses princípios, os arminianos extraíram duas deduções: primeira, visto que a Bíblia considera a fé como um ato humano livre e responsável, ela não pode ser causada por Deus, mas é exercida independentemente dEle; segunda, visto que a Bíblia considera a fé como obrigatória da parte de todos quantos ouvem o Evangelho, a capacidade de crer deve ser universal. Portanto, eles afirmam, as Escrituras devem ser interpretadas como ensinando as seguintes posições: 1. O homem nunca é de tal modo corrompido pelo pecado que não possa crer salvaticiamente (salvificamente) no Evangelho, uma vez que este lhe seja apresentado; 2. O homem nunca é de tal modo controlado por Deus que não possa rejeitá-lo; 3. A eleição divina daqueles que serão salvos alicerça-se sobre o fato da previsão divina de que eles haverão de crer, por sua própria deliberação; 4. A morte de Cristo não garantiu a salvação para ninguém, pois não garantiu o dom da fé para ninguém (e nem mesmo existe tal dom); o que ela fez foi criar a possibilidade de salvação para todo aquele que crê; 5. Depende inteiramente dos crentes manterem-se em um estado de graça, conservando a sua fé; aqueles que falham nesse ponto, desviam-se e se perdem. Dessa maneira, o arminianismo faz a salvação do indivíduo depender, em última análise, do próprio homem, pois a fé salvadora é encarada, do princípio ao fim, como obra do homem, pertencente ao homem e nunca a Deus”.

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