terça-feira, 27 de maio de 2014

A questão da “imago dei” em Calvino

1. A questão da “imago dei” em Calvino

Para Calvino, o fundamento cristão para se relacionar com a política e com a sociedade está no ensino bíblico acerca do homem. Em outras palavras, a antropologia de Calvino parte das Escrituras para entender o homem como ser político e social. Ele parte da afirmação primeira de que os seres humanos são decaídos, e sua imagem divina desfigurou-se, porém, a despeito de sua natureza pecaminosa, eles são ainda imagem de
Deus (Gênesis 1.26,27; 9.6). A imagem de Deus em todas as pessoas (Gênesis 1.27) não
foi completamente obliterada pela queda. Ele bebeu em Santo Agostinho para reafirmar os fundamentos da antropologia cristã a qual  viria a tornar-se boa parte da ética protestante. Já dizia Agostinho no século IV:

“Como nossos ouvidos captam nossas palavras, os ouvidos de Deus captam nossos pensamentos. Não é possível agir mal quem tem bons pensamentos. Pois as ações procedem do pensamento. Ninguém pode fazer alguma coisa, ou mover os membros para fazer algo, se primeiro não preceder uma ordem de seu pensamento, como do interior do palácio, qualquer coisa que o imperador ordenar, emana para todo o império romano; tudo o que se realiza através das províncias. Quanto movimento se faz somente a uma ordem do imperador, sentado lá dentro? Ao falar, ele move somente os lábios; mas move-se toda a província, ao se executar o que ele fala. Assim também em cada homem, o imperador acha-se no seu íntimo, senta-se em seu coração; se é bem e ordena coisas boas, elas se fazem; se é mau, e ordena o mal, o mal se faz” [Agostinho, Comentário aos Salmos, São Paulo: Paulus, (Patrística, 9/3), 1998, Vol. III, (Sl 148.1-2), p. 1126-1127].


A centralidade da doutrina do Imago Dei para Calvino é reforçada pelo fato de ele ter iniciado sua edição das Institutas com a seguinte afirmação sobre o Imago Dei:

A fim de que cheguemos a um conhecimento seguro de nós mesmos, devemos primeiramente aceitar o fato de que Adão, progenitor de todos nós, foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26,27). Isto é, ele foi dotado de sabedoria, eqüidade, santidade, e foi tão imbuído por esses dons de graça perante Deus que poderia ter vivido para sempre nele, se permanecesse firme na integridade que Deus lhe havia dado (Institutas 1536; 1975, 21).

A compreensão antropológica de Calvino vai alem da de Erasmo e aproxima de Lutero e Agostinho. A antropologia calvinista  é resultado do todo de  sua teologia. Antropologia não está dissociada da teologia, eclesiologia, soteriologia, escatologia e do direito, embora este último como mandatos social e cultural.

Para Costa, (2008: p.11), Calvino é um teólogo que com profundo conhecimento das Santas Escrituras, vai delinear o seu pensamento, aplicando os ensinamentos da Palavra às diversas esferas da vida humana, a começar pela genuína compreensão de quem é o homem e como Deus deseja que vivamos neste mundo. Portanto, toda a sua análise parte da Revelação de Deus.

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http://pt.wikipedia.org/wiki/João Calvino




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