domingo, 2 de dezembro de 2018

LITURGIA SINAGOGAL



DA LITURGIA SINAGOGAL PARA LITURGIA CRISTÃ: TRADIÇÃO E RUPTURA
Uma ruptura completa entre a Igreja e a Sinagoga está em contradição com a Sagrada Escritura e com a história da Igreja Cristã.  
No inicio da caminhada da Igreja chamada de “Igreja Primitiva” houve uma relação original entre ela e a Sinagoga, e com o tempo houve um distanciamento. Daí defender os dois aspectos na relação entre Igreja e Sinagoga é abordar a herança judaica nos aspectos litúrgicos que constituiu a liturgia da Igreja.
Vive-se hoje, ainda, uma certa ignorância em relação ao povo do Antigo Testamento. Há muitos que crêem que o judaísmo desapareceu com a queda de Jerusalém no ano 70 d.C. , mas sobretudo existe o desconhecimento quanto à liturgia, da qual a cristã herdou muitos elementos e modelos.
Por outro lado, o cristianismo atual tem deixado o assunto “liturgia em segundo plano, cultivando desta maneira um dualismo segregador entre as tradições antigas e modernas, entre o conceito cristão de Igreja e Sinagoga e consequentemente uma separação entre o Antigo e Novo Testamentos, com isso uma ideia dispensacionalista de Igreja. Dai se desenvolveu a idéia de que a liturgia da Igreja Cristã foi apenas produto dos primeiros cristãos, desenvolvendo a idéia de que as tradições judaicas são negativas para a Igraja. Estas ideias em minha opinião, desvalorizou não somente as tradições litúrgicas da sinagoga como também todo o Antigo Testamento. Por detrás disso, existe o pressuposto de uma perspectiva limitada das Sagradas Escrituras baseada em dispensações defendidas por aqueles que querem dividir as Escrituras de forma histórica linear sem dar muita importância para a ideia de “aliança” e para o Novo Testamento, bem como  para a historicidade da Igreja.
Jesus cumpriu as Sagradas Escrituras como Ele mesmo diz. Ele fez uso dos textos e da liturgia judaica. O mesmo fizeram Maria, os apóstolos, e a Igreja primitiva por muitos decênios.
Pode-se correr o risco de achar que atualmente o rito e a influência hebraica tenha desaparecido, não levando em conta o fato de que ele é hoje uma experiência espiritual para milhões de judeus religiosos contemporâneos. Ao contrário, lembrar-se de que esta fé continua as ser vivida ainda hoje, pode ajudar a Igreja a não se esquecer de que recebeu a revelação do A.T. por intermédio daquele povo, com o qual, Deus, em sua inefável misericórdia, se dignou fazer a antiga Aliança, e que, como escreve o apóstolo Paulo, “os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Rm 11,29).
Conhecer a liturgia judaica não é só aumentar a própria bagagem histórica e cultural, mas sobretudo penetrar na alma em oração do povo judeu, que através do séculos eleva sua voz e louvor e de invocação a um Deus que é o mesmo Deus de Jesus e dos cristãos, o único Deus de todos os homens e de todas as religiões.
É com certeza nesse nível que a liturgia judaica e cristã encontram, como “irmãs”, os seus maiores pontos de contato e consonância: isto porque tanto uma como outra anunciam o Reino de Deus, proclamam e santificam o Seu nome, louvam-no, agradecem e invocam seu advento. A santificação do Nome, a qedushat hashem, é o coração tanto da liturgia hebraica como cristã, o verdadeiro ponto de encontro e de confronte dos dois povos da aliança.
 *Mauro Ferreira - TCC apresentado à Universidade Presbiteriana Mackenzie (Faculdade de Teologia) no Programa de validação de créditos da graduação como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Teologia. (2005). 


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