quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A Igreja, o Estado e os Pré-Reformadores


A Igreja, o Estado e os  Pré-Reformadores

O século XIV começara a despontar não somente para os Estados nacionais, como também para o sentimento de reforma da Igreja. Neste século destaca John Wycliffe (1328-1384) na Inglaterra e João Husss (1373-1415) na Boêmia (hoje República Tcheca e Eslováquia).
Wycliff[1], Hus e Wessel, fundadores de movimentos reformadores da Igreja nos séculos XIV e XV, seguiram o exemplo de São Francisco de Assis ao contrapor à Igreja com seu poder e seu casamento com o Estado. Propunha uma Igreja visível, espiritual e pobre, sem poderes nem estruturas separada totalmente do Estado[2]. Nesses mesmos séculos, difundiram-se correntes espirituais e místicas, que acentuavam a dimensão íntima e subjetiva na experiência com Deus ou que evidenciavam unilateralmente a onipotência da graça divina, chegando até a considerar inúteis as obras do cristão para sua salvação. Essas idéias terão lugar fundamental na doutrina luterana.
Na Inglaterra Wycliffe recebe o apoio de alguns políticos e religiosos que defendiam o nacionalismo inglês contrario aos domínios, francês e Romano, especialmente na questão secular pela Igreja.
Ao mesmo tempo em que defendia que a Igreja deveria retornar à primitiva pobreza dos tempos apostólicos, Wyclif também entendia que o poder da Igreja devia ser limitado à s questões espirituais, sendo o poder temporal exercido pelo Estado, representado pelo rei. Seu livro “De officio regis” defendia que o poder real também era originário de Deus, encontrava testemunho nas Escrituras Sagradas, quando Cristo aconselhou “dar a César o que é de César”. Era pecado, em sua opinião, opor-se ao poder do rei e todas as pessoas, inclusive o clero, deveriam pagar-lhe tributos. O rei deve aplicar seu poder com sabedoria e suas leis devem estar de acordo com as de Deus. Das leis de Deus se deriva a autoridade das leis reais, inclusive daquelas em que o rei atua contra o clero, porque se o clero negligencia seu ofício, o rei deve chama-lo a responder diante de si. Ou seja, o rei deve possuir um “controle evangélico” e quem serve à Igreja deve submeter-se à s leis do Estado. Os arcebispos ingleses deveriam receber sua autoridade do rei (não do papa).
Este livro teve grande influência na reforma da Igreja, não apenas na Inglaterra, que sob Henrique VIII passaria a ter a igreja subordinada ao Estado e o rei como chefe da Igreja, mas também na Boêmia e na Alemanha. Especialmente interessantes são também os ensinamentos que Wyclif endereça aos reis, para que protejam seus teólogos. Ele sustentava que, já que as leis do rei devem estar de acordo com as Escrituras, o conhecimento da Bíblia é necessário para fortalecer o exercício do poder real. O rei deveria cercar-se de teólogos para aconselha-lo na tarefa de proclamar as leis reais.
Ao mesmo tempo em que defendia que a Igreja deveria retornar à primitiva pobreza dos tempos apostólicos, Wycliffe também entendia que o poder da Igreja devia ser limitado à s questões espirituais, sendo o poder temporal exercido pelo Estado, representado pelo rei.
O livro de sua autoria “De officio Regis” defendia que o poder real também era originário de Deus, encontrava testemunho nas Escrituras Sagradas, quando Cristo aconselhou “dar a César o que é de César”, no entanto esse poder deveria ser separado do poder religioso, pois para ele a Igreja pertencia a uma instância espiritual especial,  aonde representava o poder do evangelho em Cristo. Portanto um poder intrinsecamente espiritual. Era pecado, em sua opinião, opor-se ao poder do rei e todas as pessoas, inclusive o clero, deveriam pagar-lhe tributos. O rei deve aplicar seu poder com sabedoria e suas leis devem estar de acordo com as de Deus. Das leis de Deus se deriva a autoridade das leis reais, inclusive daquelas em que o rei atua contra o clero, porque se o clero negligencia seu ofício, o rei deve chama-lo a responder diante de si. Ou seja, o rei deve possuir um “controle evangélico” e quem serve à Igreja deve submeter-se à s leis do Estado. Os arcebispos ingleses deveriam receber sua autoridade do rei (não do papa).
Ele sustentava que, já que as leis do rei devem estar de acordo com as Escrituras, o conhecimento da Bíblia é necessário para fortalecer o exercício do poder real. O rei deveria cercar-se de teólogos para aconselhá-lo na tarefa de proclamar as leis reais.
Tanto Wycliffe como Huss deixaram bem definidas suas posições em relação a questão Igreja e Estado.
As idéias do pré-reformador inglês Wycliffe expressas em sua obra "Sobre o Senhorio Civil" escrita em 1376 foram bem aceitas em seu país. A Inglaterra desde o século XII vivi um clima de reação nacionalista contra a interferência da Igreja Católica nos assuntos do Estado. Em sua eclesiologia, Wycliffe ensinava que a Igreja deve ser regida pela lei de Cristo que é a lei do amor e que se expressa através do serviço ao próximo. Por essa razão ela tem que ser pobre; não pode controlar a economia nem a política. O rei deveria interferir nos casos de enriquecimento abusivo do clero. O papa torna-se um herege quando aceita o domínio do mundo, pois transgride a lei de Cristo que é a lei da pobreza. O poder do papa é apenas espiritual e quando quer tornar-se príncipe na realidade transforma-se em anticristo. (VASQUES, 2005, p.20 Apud Tillich, 1988, p.189-193).
João Huss adepto das idéias de Wycliffe propagou-as na Boêmia, com o mesmo sentimento anti-pontificial, tornando claras essas idéias na sua obra "De Ecclesia", na qual não só propõe uma reforma na Igreja, mas a separação do poder secular e poder religioso. [.....]. 



[1] John Wyclif (ou Wycliffe) foi professor da Universidade de Oxford, teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas religiosas que sacudiram a Europa nos séculos XV e XVI (ver: Reforma Protestante). Trabalhou na primeira tradução da Bíblia para o idioma inglês, que ficou conhecida como a Bíblia de Wyclif. Wyclif então se retirou para sua casa em Lutterworth, onde reuniu sábios que o auxiliaram na tarefa de traduzir a Bíblia do latim para o inglês. Enquanto assistia à missa em Lutterworth, no dia 28 de dezembro de 1384, foi acometido por um ataque de apoplexia, falecendo 3 dias depois, no último dia do ano.A influência dos escritos de Wyclif foi muito grande em outros movimentos reformistas, em particular sobre o da Boêmia, liderado por Jan Huss e Jerônimo de Praga. Para frear tais movimentos, a Igreja convocou o Concílio de Constança (1414 – 1418). Um decreto deste Concílio (expedido em 4 de maio de 1415) declarou Wyclif como herético, recomendou que todos os seus escritos fossem queimados e ordenou que seus restos mortais fossem exumados e queimados, o que foi cumprido 12 anos mais tarde pelo Papa Martinho V. Suas cinzas foram jogadas no rio Swift, que banha Lutterworth.
[2] Para uma pesquisa mais abrangente sobre o tema ver: TREVOR-ROPER, H. R. Religião, Reforma e Transformação Social. Lisboa: Editorial Presença/ Martins Fontes, 1972.


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