segunda-feira, 23 de novembro de 2020

SIMONTON: O LEGADO DE UM PIONEIRO

Biografia e Sinopse Histórica: -Nascimento de Ashbel G. Simonton West Hanover, Pensilvânia 20/01/1833. -Pai:William Simonton, médico, político e presbítero. -Mãe: Martha Snodgrass Simonton - Foi caçula dentre 11 filhos: 7 homens e 4 mulheres - descendentes de irlandeses presbiterianos. - 14/06/1833 batizado com 5 meses: “filho da Aliança”- 17/05/1846 morte do pai? /04/1847 - mudança para Harrisburg, Pensilvânia 1850 – graduação na High School, New Jersey 1852 – graduação no College of New Jersey Starkville, Mississipi? /12/1852 - aos 19 anos exerce o magistério ensinando: latim, francês, alemão e italiano 29/06/1854 - volta para Harrisburg Pensilvânia? /07/1854 – inicio o estudo de Direito 05/05/1855 - profissão de Fé na Igreja Presbiteriana Market Square Princeton, New Jersey? /08/1855 - estudante no Seminário Teológico Presbiteriano de Princeton 14/10/1855 - despertamento para missões 10/10/1857 - Conversa com o secretário de Missões da Igreja Presbiteriana do Norte 14/04/1858 - Licenciado para pregar pelo Presbitério de Carlyle 21/11/1858 - opção pelo Brasil ?/12/1858 - resposta positiva da Junta de Missões (Board of New York) 14/04/1859 - Ordenação ao ministério na Igreja Reformada Alemã de Harrisburg 18/06/1859-embarque para o Brasil, no navio “Banshee” Rio de Janeiro, Brasil 12/08/1859 - Desembarque no Rio de Janeiro, quase 2 meses de viagem - chega ao Brasil com 27 anos de idade 31/08/1859 - celebração do 1º culto no Brasil 27/12/1859 - celebração da 1ª Santa Ceia 12/01/1862 - primeiros batismos e organização da 1ª Igreja Presbiteriana do RJ . Pouco depois de organizar a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, em conjunto com o reverendo Alexander Blackford, (12 de janeiro de 1862), o jovem missionário seguiu em viagem de férias para os Estados Unidos, vindo a casar-se com Helen Murdoch, em Baltimore. Regressaram ao Brasil em julho de 1863. No fim de junho do ano seguinte, Helen faleceu nove dias após o nascimento da sua filhinha, que recebeu o seu nome. Helen Murdoch Simonton, a filha única do Rev. Simonton. Com o passar dos anos, Simonton criou o jornal Imprensa Evangélica (1864), organizou o Presbitério do Rio de Janeiro (1865) e fundou o Seminário Primitivo (1867), este último localizado em um edifício de vários pavimentos junto ao Campo de Santana. No final de 1867, sentindo-se adoentado, o missionário pioneiro seguiu para São Paulo, onde sua irmã e seu cunhado criavam a pequena Helen. Seu estado de saúde agravou-se e ele veio a falecer no dia 9 de dezembro, acometido de "febre biliosa", conforme consta do seu registro de sepultamento. Seu túmulo foi um dos primeiros do ainda recente Cemitério dos Protestantes, no bairro da Consolação. Anos depois, foram sepultados perto dele os ossos do ex-sacerdote reverendo José Manuel da Conceição (1822-1873), o primeiro pastor evangélico brasileiro. Simonton e Conceição, um estadunidense e um brasileiro, foram os personagens mais notáveis dos primórdios do presbiterianismo no Brasil. Fatos que confirma o chamado e a Providência Divina: Um fato digno de meditação é a ocasião do batismo da criança Ashbel. Em 14 de junho de 1833 quando a criança estava com cinco meses, os pais a apresenta para o batismo, momento em que cheia de fé, sua mãe entrega aquela criança ao Senhor pedindo que o consagre para o sagrado ministério. O tempo passou, a criança cresceu, virou um adolescente a ponto de se sentir influenciado pelo contexto americano da época. Os Estados Unidos, especialmente no novo Estado da Pensilvânia com a abertura de cursos de Direito e humanidades, os jovens sentiam atraídos pelos novos cursos. Simonton era filho de um conceituado médico, deputado federal e devoto cristão, e, como filho de um político, tinha naturalmente uma futura carreira brilhante como advogado. O jovem Simonton inscreve no curso de Direito em Harrisburg – Pensilvânia em 02 de julho de 1854. Em 20 de janeiro de 1855, seis meses de curso, ao completar vinte e dois anos, um jovem mestre-escola e estudante de direito norte-americano está preocupado com seu projeto de vida. E lamenta, (Simonton, Diário, p. 87): “A verdade é que chego aos vinte e dois anos, e ainda não fixei o objetivo da minha existência”. Para o filho de pais religiosos, uma preocupação mais específica é a questão da salvação, ou seja, a certeza da fé. No dia 14 de abril, após participar no Inquiry Meeting, uma reunião de prosseguimento que ocorria nas igrejas protestantes após os cultos de pregação da Bíblia (Revival), esse rapaz afirma que diante da pergunta individual, feita usualmente aos participantes, “Como você está-se sentindo?” ele não se sentia seguro para dar uma resposta. Diante dessa pergunta difícil, ele assim se auto-descreve para seu diário: Não tenho aquela aflição mental que muitos experimentam pela consciência do perigo; nem fortes sentimentos de remorso por meus pecados; nem emoções profundas de gratidão ao Salvador por Suas misericórdias e bondade, evidentes no plano da salvação; e nem a certeza de que Ele será meu Salvador. Mas não sou indiferente nem insensível em tudo isso, e meu interesse é profundo. Sei que sou grande pecador, e com justiça exposto à ira de Deus. Sinto que nada posso fazer para salvar-me dessa ira. Renuncio a qualquer esperança em qualquer outro nome ou caminho da salvação exceto o nome e o sangue de Jesus Cristo; e se conheço meu coração, sou sincero no desejo de devotar-me a Seu serviço. Contudo, e não sem esperança de Sua graça, não sinto evidência segura de que minha crença nessa esperança é boa. Tenho procurado alguma visão nova ou mais clara da verdade, ou sentimentos mais vivos, dada minha visão anterior da verdade, do que os que já experimentei. Mas na falta do que considero evidência da operação do Espírito, não sinto a certeza da fé. (SIMONTON,1982, p. 94.) Em 3 de maio de 1855, Simonton registra que findaram suas funções no Tribunal, e assim o seu desejo de ser advogado. Movido pelo espírito de Deus, volta ao curso normal de sua existência, ingressando em seguida no seminário de Princeton, New Jerseyem 02 de agosto de 1855. Ele registra em seu Diário: E agora antes do fim deste dia pelo qual espero jamais deixar de dar graças a Deus, quero deixar escrito, para poder ler e reler, o que hoje voluntariamente dediquei a Deus: Deliberei no temor a Deus cumprir todos os deveres expressos em Sua Santa Palavra, e estudar essa Palavra em oração sincera para que seja guiado ao bom entendimento dela. Renunciei a qualquer outra esperança de salvação e declarei minha confiança na livre Graça de Deus revelada no Evangelho de Jesus Cristo; minha obrigação para com Ele por todas as aspirações vindas Dele e minha dependência Dele em cada novo passo da vida consagrada. Assumi os votos feitos por meus pais em minha infância “para ser do Senhor”, e fazer do Seu serviço o supremo objetivo da vida. Para que todo o caminho que eu tomar seja marcado por sua Palavra e Sua Providência, jamais me deixarei afastar do caminho que Ele indicou; especialmente se Sua Vontade clara me indicar o Ministério, para lá irei com alegria e zelo. E para descobrir Sua Vontade orarei e esperarei por Ele com coração sincero. Mas se por Sua providência essa estrada estiver fechada, aceitarei e lembrarei que em qualquer posição na vida Sua glória deve ser objetivo supremo “pois fomos comprados por preço: o precioso sangue de Jesus”. Esta é minha aliança. (SIMONTON,1982, p.97-98). Em 20 de janeiro de 1856, quando celebrou seu primeiro aniversário após ter se tornado membro professo da Igreja, ele está agora com 23 anos. Simonton se refere à decisão religiosa tomada meses antes da seguinte maneira: Foi com dúvidas que fiz essa profissão. Minha fé era fraca e minhas impressões tão inadequadas que não podia deixar às vezes de me sentir indeciso quanto à minha verdadeira condição. E agora, revendo minha vida, e o progresso que fiz na vida sagrada, embora possa lembrar tanta coisa boa, contudo muito há em mim que prova a fraqueza do princípio de minha fé, - se é que posso dizer com certeza que possuo a fé salvadora que o Evangelho exige. (grifo nosso). (SIMONTON,1982, pg. 108-109). Matos registra: Um terceiro fator que marcou a trajetória de Simonton foi a tradição puritana, tão importante na história dos Estados Unidos. Um legado dessa tradição foi o grande fervor espiritual, a intensa busca de comunhão com Deus que contribuiu para os freqüentes avivamentos da época. Em um deles, ocorrido em 1855, o jovem presbiteriano se converteu e sentiu despertar em seu íntimo a vocação ministerial, ingressando no Seminário de Princeton. Matos escrevendo sobre os primeiros passos do pioneiro diz: Ashbel Green Simonton, o missionário fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil, era membro de uma das inúmeras famílias de origem escocesa-irlandesa que viviam no Estado da Pensilvânia. Simonton nasceu em 20 de janeiro de 1833 na localidade de West Hanover, no sul daquele estado. Era o filho mais novo do Dr. William Simonton, um médico que também abraçou a carreira política, tendo sido eleito duas vezes para o Congresso dos Estados Unidos. A mãe de Simonton, Martha Davis Snodgrass, era filha do Rev. James Snodgrass, que durante 58 anos foi pastor da Igreja Presbiteriana local. Após a morte do seu pai e do avô materno em 1846, Simonton, então com treze anos, e sua família mudaram-se para a cidade de Harrisburg, no mesmo estado, onde ele concluiu os estudos secundários. Desde cedo Simonton recebeu as melhores influências morais, intelectuais e espirituais da fé presbiteriana em que foi criado. Essas influências podem ser facilmente discernidas no Diário que escreveu a partir dos dezenove anos de idade O chamado missionário de Ashbel G. Simonton ocorreu no Seminário Teológico Princeton (14/10/1855), quando num sermão o Dr. Charles Hodge “falou da necessidade absoluta de instruir os pagãos antes de poder esperar qualquer sucesso na propagação do Evangelho e mostrou que qualquer esperança de conversões baseada em obra extraordinária do Espírito Santo comunicando a verdade diretamente não é bíblica.” Ainda no primeiro semestre de estudos, Simonton ouviu uma pregação do Dr. Charles Hodge (1797-1878), eminente teólogo e professor do seminário, que o fez pensar seriamente na possibilidade de devotar-se à obra missionária no estrangeiro. Uma das principais conseqüências dos grandes reavivamentos norte-americanos havia sido um profundo interesse por missões, ou seja, a preocupação em levar a mensagem cristã a outros povos. A primeira entidade surgida nos Estados Unidos com essa finalidade foi a Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras, criada pelos congregacionais em 1810. Em 1837, os presbiterianos também criaram a sua própria Junta de Missões Estrangeiras, que eventualmente começou a atuar em diversas regiões da Ásia, África e América Latina . No seu diário, transcrito em parte no livro “Simonton”, podemos ver sua luta interna. Aos 22 anos, sentiu uma necessidade de buscar seriamente a Deus pela oração e cuidadosamente leitura da Bíblia. Fez então sua pública profissão de fé e seguiu para o seminário de Princeton. Durante o curso, a idéia de ser missionário não o deixava em paz, até que escreveu à junta de missões se oferecendo para trabalho no Brasil. Desembarcou no Rio na Manhã ensolarada de 12 de Agosto de 1859. Ele descreve a experiência em seu diário hora por hora. Por volta das 9:30 da manhã ele escreve: "Estou acordado desde as quatro da manhã, observando as manobras para adentrar o porto contra o vento e a maré. É um lugar lindo, o mais singular e radiante que jamais vi (.......) Dei minha roupa de viagem ao cabineiro, em atenção aos serviços durante a viagem. Estou pronto para descer". As 14:15 Simonton estava sendo recebido por Robert C. Right, a quem entregou a carta de apresentação. Dois meses após sua chegada, Simonton escreve o seguinte: "Ser missionário sem Ter o amor fervoroso por Cristo e zelo pelas almas é mau negócio. Devo renovar minha consagração". CONCLUSÃO: Em apenas oito anos de ministério no Brasil, Simoton deixou-nos um legado de fé, trabalho e convicção de seu chamado para obra de Deus. Hoje todos os presbiterianos do Brasil é fruto deste trabalho pioneiro, que em suas lembranças muito nos edifica. Somente na IPB são hoje cerca de 268 presbitérios, 3650 Igrejas e 3200 congregações totalizando mais de 700000 membros. SOLI DEO GLORIA! *Mauro Ferreira de Souza é membro da Ordem dos Teologos do Brasil. É membro da Associação Internacional República e Laicidade. Membro da ABHR- Associação Brasileira de História das Religiões. Foi Ministro da Palavra e Sacramentos da Igreja Presbiteriana e Juiz do Tribunal Sinodal Eclesiastico da Igreja. Formação Acadêmica: Bacharel em Filosofia e Teologia (Universidade Mackenzie), Direito (UNIB), Especialista em Filosofia Contemporânea e Historia pela (Universidade Metodista) e Mestre em Ciências da Religião pela (Universidade Mackenzie). Doutorando em Filosofia. Professor de Filosofia, Filosofia do Direito, Teologia e História das Religiões.

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